quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Recado ao Pai (Natal)...

O Natal já passou, mas o Pai Natal ainda anda por aí e, antes que o ano termine e ele regresse à Lapónia, queremos deixar-lhe um recadinho...
Este ano, à semelhança dos anos anteriores, na noite da consoada, o Pai Natal apareceu, mas começou logo mal porque mais parecia estar possuído quando bateu à porta...eu sei que não estávamos em Cascais, que estava um frio de rachar na rua, mas não era necessária tamanha violência para conseguir entrar na casa das pessoas...é que a tão desejada visita mais parecia um assalto!...
Depois ainda tivemos a questão da voz...é que o "velhote" esteve quase a ser desmascarado porque, quando não se consegue mudar a voz, o  melhor é mesmo ficar calado ou limitar-se a dizer o célebre "OHOHOH", antes que o encantamento dê lugar à desilusão e a magia do momento desapareça...
Como se isto não bastasse, quando o Pai (Natal) começou a distribuir presentes pelos mais novos e, no meio dos presentes que a  Nônô tanto gostou, vinha algo que a deixou perplexa...um equipamento completo do Sporting! Claro que a reacção da criança não se fez esperar e as suas frases surgiram em catadupa e por esta ordem "o que é isto???", "o Pai Natal é tonto!!!", "Eu não pedi isto!!!", "O Pai Natal enganou-se, eu sou do Benfica!!!" e, enquanto fazia um esgar de repúdio e dizia "biiiieque", pegou no presente e atirou-o para trás do sofá enquanto ordenava "LIXO!".
A Nônô é natural de Benfica, nasceu nas proximidades da estrada da Luz, tendo partilhado durante uns dias o mesmo hospital com o Pantera Negra (que nesse altura estava lá internado), portanto a ordem natural das coisas é que o SLB seja o clube do seu coração, aliás sempre que vislumbra o estádio da Luz é frequente dizer "eu nasci aqui!"...bom, não foi bem ali, mas foi ao lado e o que realmente importa é que a sua verdadeira essência é  benfiquista! 
Quanto ao Pai (Natal) e, dada a cor da sua indumentária, também tudo aponta para que seja do glorioso...
Eu sei que é muito feio rejeitar presentes e que a educação passa pelos pequenos gestos, mas convenhamos que desta vez o Pai (Natal) "esticou-se" e...quem faz o que quer, ouve o que não quer!...
Também sei que o Sporting agora até tem um "Jesus" que de "menino" tem muito pouco, aliás o nome Judas assentava-lhe muito melhor, mas como estamos numa época de paz e amor, perdoar também deve fazer parte das nossas melhores  intenções...
...e que  2016 seja um ano muito feliz para todos!!!

Ana Pádua
31/12/2015

o que pediu e o que não pediu...

...e para que não restem dúvidas...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Na volta do correio...

Já estamos "embalados" para o Natal...a árvore já foi montada, o presépio nunca deixou de estar armado e até a pequena lembrança para o Pai Natal não foi esquecida, sim porque ele vem mesmo à nossa casa!...nuns anos, o "velhote" é mais divertido, convive connosco e até tiramos umas fotografias com ele para imortalizar o momento, noutros anos, é mais tímido, toca à campainha, despacha o serviço e põe-se a andar, basicamente tudo depende da personalidade do voluntário à força que, na noite de Natal, está disponível para este papelaço...eu tenho a minha preferência, mas nunca digo a ninguém para não ferir susceptibilidades, para não parecer tendenciosa e, acima de tudo,  para ver se me calha alguma coisa no sapatinho...
Este ano, a Nônô não estava com grande pressa em escrever a carta ao Pai Natal (deve ter herdado da família a tendência para deixar tudo para a última hora!), mas lá se decidiu...primeiro ditou e eu escrevi, depois eu li em voz alta e a Nônô transcreveu para um papel com a sua caligrafia e, por fim, foi tudo posto num envelope e endereçado ao Pai Natal e a carta só não foi posta no marco de correio mais próximo, porque os CTT têm mais que fazer nesta altura do ano que andar a brincar ao imaginário dos mais pequenos e, por isso, a correspondência em vez de seguir para a Lapónia, foi directamente para a nossa caixinha das recordações, até porque a Nônô há algum tempo que encontrou uma forma mais divertida e eficaz para expressar os seus desejos e ver realizados os seus sonhos...
Assim, é só vislumbrar um lago, uma fonte, um fontanário ou, na pior das hipóteses, qualquer água estagnada e, qual apaixonada diante da Fontana di Trevi, desata a pedir moedinhas para lançar à água, sempre acompanhadas de um desejo que faz questão de me segredar ao ouvido, na esperança que eu o comunique ao Pai Natal...apesar da Nônô não ser de pedir este mundo e o outro, é de ideias fixas, e os seus pedidos nunca variam muito e englobam sempre um menino para brincar (que só pode ser um Nenuco, embora ultimamente se lembre de pedir uma "mana" de nome Francisca), um skate (que o Pai Natal seguramente não encontrará porque não queremos acabar 2015 nas urgências hospitalares) e a "Ritinha gatinha e caminha" que é uma boneca que, além de gatinhar e andar, eu desejo secretamente que não se atreva a falar!
Mas o que realmente a Nônô esperava todos os dias era receber novidades na volta do correio, porque a cada vez que eu verificava a correspondência, a criança ficava indignadíssima por nunca haver uma única cartita endereçada a ela...todos os dias o ritual se repetia, pedia a chave para abrirmos a caixa do correio, conferia todas as cartas e a desilusão apoderava-se dela...mas ontem houve uma surpresa e o Pai Natal escreveu-lhe um postal onde tecia rasgados elogios ao seu comportamento, o que a deixou muito orgulhosa e o delírio foi total quando se apercebeu que o postal vinha acompanhado por um presente antecipado de Natal...bilhetes para o Festival do Panda!...e é assim, quando menos esperamos, a magia do Natal acontece!!!

Boas Festas para todos, um Santo Natal e um Próspero Ano Novo!

Ana Pádua
21/12/2015 

o postal do Pai Natal...

o presente inesperado...

...e a volta do correio
mais uma moedinha...
...mais um desejo...

...e mais um sonho

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O circo

Este fim-de-semana fomos a um espectáculo que nunca me cativou, o circo! Mesmo em criança, nunca me senti fascinada com as actividades circenses e, com o avançar da idade, fui criando uma espécie de aversão em relação às mesmas...temia pela integridade física dos trapezistas, enervava-me a possibilidade de falhanço dos malabaristas, não achava particular graça aos palhaços, não me impressionava com os truques dos ilusionistas e, acima de tudo, o cativeiro e a domesticação dos animais na base do reforço positivo nunca me convenceu...
Por tudo isto, ainda não tínhamos decidido ir ao circo com a Nônô, mas no Sábado fomos "apanhados na curva" ao sermos surpreendidos com uns convites para o circo internacional que está no Coliseu de Lisboa e aceitámos sem pensar, até porque se tivéssemos pensado não teríamos aceite e, se não tivéssemos aceite, teríamos perdido um magnífico espectáculo...os trapezistas tinham rede e estavam agarrados a cabos para sua segurança, os malabaristas foram incríveis e não falharam, os ilusionistas fizeram a magia do Natal acontecer, os palhaços deliciaram as crianças e a inexistência de números com animais foi louvável! À parte disto, elegemos o momento de fantasia feito com bolas de sabão, cujo efeito é indescritível por palavras, o ponto alto do espectáculo...a Nônô, que é viciada em fazer bolinhas de sabão, ficou deslumbrada e, decerto, vai querer um kit semelhante para tentar fazer o que tanto apreciou.
Mas o nosso dia não foi só circo e aproveitámos esta ida até Lisboa para desfrutar da capital que está transformada numa cidade fantástica cheia de movimento, animação e imbuída de um espírito natalício ao qual ninguém fica indiferente...ainda passeámos pela Avenida da Liberdade (onde assistimos à maratona que por lá passava), pelos Restauradores (onde tivemos de experimentar a "Padaria Portuguesa"), pelo Rossio, pelo Chiado e pelo Príncipe Real onde ficámos surpreendidos com tudo o que vimos e só ficou mesmo a vontade e a promessa de voltarmos em breve...
Obrigado "tia" Carolina e "tio" Pedro por proporcionarem esta experiência tão enriquecedora à Nônô que é sempre a estrela da nossa companhia!...

Ana Pádua
14/12/2015

a estrela da companhia
à entrada para o Coliseu...
no meio da maratona...
...na Padaria Portuguesa

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Um Domingo radical

Este ano, o verão de São Martinho superou todas as expectativas e eu não tenho memória de em Novembro pôr os pés na praia nem tão pouco constatar que a temperatura da água do mar pode ainda estar tão agradável...
A Nônô herdou de mim o gosto pela rua e um só dia enclausuradas em casa provoca--nos uma tremenda falta de ar, pelo que actividades ao ar livre são o melhor programa que lhe podemos proporcionar. Assim sendo, sábado e domingo são sempre dias de actividades outdoor, quase sempre acompanhadas por um dos seus três veículos...a par da sua cadeira de passeio que nunca amou, tem uma bicicleta que eu não amo e uma trotinete que veio colmatar o seu eterno sonho de ter um skate...
Quanto à cadeira de passeio, o seu uso sempre foi muito reduzido, porque assim que começou a andar, conseguir manter a Nônô na cadeira revelou-se uma missão impossível porque o seu desejo de independência e a sua ânsia de autonomia superavam em grande escala o seu cansaço e, actualmente, só quando prevê que o passeio será uma autêntica maratona, é que pede que levemos a cadeira porque segundo ela "está cansada das pernas".
Em relação à "bicla" que é a versão rufia utilizada pela Nônô para designar a sua bicicleta, a qual nem é digna deste nome porque não tem pedais e, ao que parece, o único objectivo desta invenção é favorecer o equilíbrio, mas a verdade é que quando as crianças ainda não têm equilíbrio estão sempre a cair destes magníficos velocípedes e, quando já o têm, desequilibram-se na mesma e estão sempre no chão, por isso, as ditas "biclas" são um pesadelo e eu estou sempre na esperança que a Nônô não se lembre que tem uma...
Mas quando a Nônô se apanha na sua trotinete é vê-la lançar-se ao mais alto estilo e, quando atinge a velocidade desejada, salta para cima da prancha e a sua máxima é "saiam da frente que aqui vou eu!". Claro que de vez em quando também sai um trambolhão e ontem, devido às irregularidades do piso, deve ter batido todos os recordes de quedas mas, qual "cool girl", depressa se ergue e, sem uma única lágrima para dramatizar o momento, sacode as mãos enquanto diz "acontece", apanha a trotinete da chão, começa a dar impulso e depressa ganha novamente velocidade...
...e a avaliar por todos os sorrisos que lhe ofereceram aqueles que por ela passaram e obrigatoriamente tiveram de desviar-se da sua trajectória, só pode estar no bom caminho!...

Ana Pádua
16/11/2015

my little cool girl
...alguém terá de desviar-se...

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Trouble twos, terrible threes or terrific teens?

"Trouble twos" é a expressão utilizada habitualmente para designar a idade que medeia os 2 e os 3 anos....e não é por acaso!
Mais do que uma idade, é um estado de desenvolvimento caracterizado por mudanças bruscas de temperamento e marcado pelo uso abusivo da palavra "NÃO"; representa a fase em que a criança começa a debater-se com o forte desejo de independência e com o adquirir de opinião própria, embora muitas vezes não tenha essa consciência ou percepção, o que conduz a raciocínios não coerentes, falhas no diálogo, frustrações e, inevitavelmente, dificuldade no controlo dos seus sentimentos e emoções.
O 1º ano de vida da Nônô implicou uma adaptação a muitos níveis mas, cólicas à parte, foi maravilhoso; do 1º para o 2º ano e, excepção feita  à saga da erupção dos dentes que me proporcionou inúmeras noites em claro, tudo foi perfeito! Assim que completou os 2 anos, a Nônô passou a dormir a noite inteira, mas os dias passaram a ser bem turbulentos...foi a idade mais exigente, onde a paciência é constantemente testada até ao limite e não é fácil, nada fácil, gerir os conflitos das crianças nesta faixa etária. Com os 3 anos veio a bonança, pelo menos aparentemente...a Nônô percebeu que não vive numa anarquia e que existem regras que convém serem cumpridas, o que tornou a vida de todos, incluindo a dela própria, num lugar muito melhor! Agora e até ver, vamos navegando em águas serenas e já merecíamos estas tréguas depois de um ano intenso e desgastante, onde investimos muito tempo e esgotámos quase por completo a paciência...
Às vezes temos de negociar (vulgo chantagear) um bocadinho, mas a verdade é que já é tudo bem mais pacífico...ainda lidamos com um esporádico mau génio, indicativo de um feitiozinho que se prevê difícil e desafiante, sempre acompanhado de um poder de argumentação que nos desconcerta e, ultimamente, quando a Nônô está chateada com a própria vidinha, ou seja, quando é contrariada, começa a emitir uns sons tipo "uuum" "uuum" "uuum" que me arrancam sempre um sorriso dos lábios porque só me fazem lembrar aqueles resmungões de idade avançada que passam o dia a rezar baixinho...
Durante o último ano, reconfortaram-me as palavras de duas amigas que me garantiram que era só uma fase e que iria passar; ambas são mães de dois rapazes que actualmente têm 9 anos, um comportamento exemplar e uma paciência infinita para a Nônô, mas que há meia dúzia de anos atrás, deviam andar a rasar a hiperactividade...ainda me lembro de um célebre jantar em que uma dessas criancinhas não deu descanso e não parou um segundo sossegada...saltava do chão para a bancada da cozinha, da bancada da cozinha voava para para cima das cadeiras, das cadeiras esgueirava-se para a mesa de jantar, da mesa de jantar pulava para o sofá e testava até ao limite a resistência das suas molas, para depois aterrar no jardim e, entre pinos, rodas, cambalhotas e flic-flac, transpirava por todos os poros e mais algum e ainda resolveu ir passear os cães que chegaram a casa extenuados e o miúdo ainda tinha energia suficiente para alimentar uma cidade...só sei que no fim da noite, todos os presentes estavam exaustos só de o observar e eu percebi a razão da mãe estar no osso e o pai implorar por ansiolíticos.
Quanto à Nônô, ainda lhe faço um bocadinho de marcação cerrada e há uns dias ouvi a seguinte frase: "Mãe, não me largas e já pareces o cão do tio João Pedro"...o referido cão é um Labrador tipo "aspirador" que não descola da Nônô por um segundo, na esperança de conseguir saquear-lhe uma bolacha das mãos ou um qualquer pedaço de pão que caia ao chão...e, bem vistas as coisas, congratulo-me com a comparação porque tenho a plena consciência que, durante o último ano, houve alturas em que eu mais parecia o cão do tio Manel, um pastor alemão que rosna por tudo e por nada ou, pior ainda, o cão da tia Sofia, um rottweiler que está sempre pronto a fincar os dentinhos que tem na boca em tudo o que se mova e lhe passe à frente do nariz ...
Os 2 anos foram realmente difíceis, muito difíceis, foram mesmo os "difíceis dois" e eu todas as noites rezo um Pai Nosso e uma Avé Maria para não ver os "trouble twos" transfomados em "terrible threes" mas, como dizem as minhas amigas que no que toca à maternidade já levam uns aninhos de avanço sobre mim, difícil, difícil é mesmo ter que lidar com os "terrific teens"!...

Ana Pádua
06/11/2015


"yoga mood"


"meditation mood"


 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Uma gata chamada...Kitty!

Há uns meses, a avó Nhônhõ encontrou uma gatinha bebé no meio da estrada...uma fêmea preta com uns ínfimos pêlos brancos disseminados por todo o corpo e uma cauda eriçada que se assemelhava à de um esquilo; estava completamente esfomeada, desorientada e doente, pelo que foi recolhida, não só para eu tratar, mas também para tratar de arranjar-lhe um dono...
Previa-se que a sua sina não estivesse traçada na palma da mão (ou melhor, pata), mas na sua identidade de género e na cor da sua pelagem e tudo porque a maioria das pessoas, apesar de estarem sempre em constante negação, são machistas e muuuiiiiito supersticiosas.
Ao longo da vida tive três cães, curiosamente todos eles pretos...o Kimba com quem convivi nos meus primeiros anos de vida, o Cocas que acompanhou toda a minha infância e adolescência e, por último, o Paquito que me fez compreender porque é que existem os cães d`água e depois todos os outros animais...quanto a gatos, sempre foram uma constante na minha vida e, por casa da minha mãe, devem ter passado todas as pelagens que os europeus comuns suportam, desde brancos a pretos, pretos e brancos, tartarugas, cinzas, amarelos, tigrados e mais alguns que já nem me lembro da cor...
Enquanto eu procurava e desesperava por um adoptante, o tempo passava, o animal melhorava e a Nônô afeiçoava-se àquele ser indefeso, a quem começou por chamar "gatinha bebé" e, ao vislumbrar este cenário que era deveras promissor, tentei convencer a Nônô que a gatinha estava ali em convalescença e que teríamos de encontrar-lhe um dono, mas a resposta da Nônô era sempre "EU SOU A DONA!"...e daí até ao baptismo da gata foi um pulinho e a "gatinha bebé" passou a chamar-se Kitty...
A Hello Kitty era uma daquelas personagens que eu tolerava (não amava é certo, mas simpatizava) até que vi a minha vida ser literalmente invadida, por todos os lados e direcções, pela gata mais famosa do mundo...a Nônô é uma "Kitty lover" e eu já só tropeço em ganchos, pulseiras, colares, relógios, lápis, canetas, cadernos, blocos, malas, malinhas e malões, chapéus, bolas, braçadeiras e sei lá eu mais o quê, tudo o que diariamente se encontra espalhado pelo chão da casa, o que me fez passar a olhar para a referida personagem com outros olhos...para meu regozijo, constou-me que a gata está em vias de extinção devido aos constantes plágios de que tem sido alvo; não sei se este é o verdadeiro motivo para o seu eclipse, mas não cabo em mim de contentamento, até porque já me apercebi que o meu eterno ídolo, o Snoopy, está de volta e, este sim, é um personagem com graça!
Mas a "gatinha bebé" ficou mesmo Kitty e, a partir daí, a nossa vida mudou e a dela também...o animal passou a não ter um segundo de descanso, salvo as horas em que a Nônô está na escola porque, assim que chega, não há entretenimento melhor que desfrutar da companhia da Kitty que constantemente é abraçada, beijada, apertada e ainda tem de ouvir histórias para adormecer e sermões quando a Nônô entende que o seu comportamento não é o mais adequado e, incrivelmente, a gata permanece sempre estática e nunca põe as garras de fora e é enternecedor observar a interacção das duas, que além de terem uma empatia mútua, já não vivem uma sem a outra...
Pelos mais variados motivos, tenho imenso respeito e admiração por quem se dedica à causa animal, mas com o passar dos anos, apercebi-me que, regra geral, os donos de felinos são mais pragmáticos que os proprietários de canídeos mas, no que toca à defesa das espécies, o quadro inverte-se e as protectoras dos cães são muito mais descomplicadas que as "maluquinhas" dos gatos" e começa logo porque, para estas últimas, nenhum adoptante tem perfil para o ser...ou é porque vive num apartamento e os animais podem tentar o suicídio e "voar" de alguma janela, ou é porque se habita numa casa com jardim e os gatos podem escapulir-se pelo gradeamento (a não ser que a vedação seja inspirada em Auschwitz) e acabarem debaixo de um carro ou na boca de um cão, ou é porque vão coabitar com outros animais e podem vir a sofrer de algum stress traumático ou de outra enfermidade qualquer e, a encabeçar os pré-requisitos que aniquilam qualquer potencial adoptante, estão as crianças! Eu sei que há uns pestinhas que rasam a crueldade e o sadismo e só apetece bater-lhes (a começar logo pelos progenitores), mas a grande maioria das crianças são naturalmente dóceis para com os animais e, esta saudável convivência, além de proporcionar muita diversão e brincadeiras em família, ainda tem o benefício de ajudar a reforçar a auto-estima (num precioso combate à timidez, ao medo e à ansiedade) e, acima de tudo, ensina a responsabilizar, que neste caso específico, é sinónimo de amar, cuidar e tratar...
Bom, quanto à Kitty, actualmente está em casa da avó Nhõnhõ, onde convive com mais dois semelhantes que, em vez de stress e enfermidades, transmitem-lhe afectos; tem um jardim à sua disposição para brincar e subir às árvores e onde aprenderá naturalmente a defender-se dos perigos exteriores mas, o mais certo é daqui por uns tempos ir viver para um apartamento onde a segurança já é forçosamente reforçada para que ninguém se aventure a testar as leis da gravidade e, sem dúvida, o mais engraçado nesta história foi ter sido a Nônô a responsável pela sua adopção e não tivemos outra alternativa senão dizer: "Hello, Kitty!"

Ana Pádua
23/09/2015 

responsabilizar é...
amar...

cuidar...

...e tratar
I LOVE CATS

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O quadro

Há já algum tempo que tinha a intenção de pedir a alguém que retratasse a Nônô num quadro...pesquisei, pesquisei muito e tudo o que encontrava, me indicavam ou me aconselhavam, por um motivo, por outro ou por vários, em nada correspondia ao que eu tinha idealizado...
Um dia, enquanto esperava pela impressão dumas fotografias numa loja que frequento habitualmente, entra uma senhora com uma criancinha segura por uma mão e um quadro para emoldurar na outra...os meus olhos fixaram-se durante uns minutos no quadro, em seguida, desviaram-se para a criança e, nesse preciso momento, percebi que estava ali mesmo o que eu incessantemente procurava. Sem grandes rodeios, abordei a senhora que se revelou muito simpática e disponibilizou-me logo a fotografia através da qual o quadro tinha sido feito e disse-me que, tal como eu, também ela já havia percorrido seca e meca à procura de alguém que retratasse o filho, porque isto de pintar é tudo muito lindo, mas conseguir captar expressões faciais tem muito que se lhe diga...disse-me ainda que o seu quadro tinha sido pintado por um artista descoberto por mero acaso durante um passeio no local onde, por coincidência, nós estaríamos de férias na semana seguinte; disse-me ainda que não se lembrava do nome do pintor e eu ainda olhei para a assinatura mas, tal como a maior parte delas, revelou-se ilegível e, conversa terminada, a fotografia da Nônô foi o primeiro objecto a "marchar" para o interior da minha mala de viagem...
A fotografia elegida foi tirada no dia em que a Nônô completou três anos e, para mim, tem muito significado, não só porque consegui captar-lhe uma expressão de felicidade genuína quando viu o bolo de aniversário (uma Kitty), mas porque naquele momento, o seu sorriso foi a minha minha maior recompensa num autêntico caso de "prometido é devido"...
Já no nosso destino de férias e, assim que tive oportunidade, fui passear com a Nônô e a minha sobrinha Filipa até ao local onde eventualmente estaria o pintor e, quando lá chegámos, deparámo-nos com o talento de vários artistas, sentados e de costas voltadas para os transeuntes que ali passavam e paravam para contemplarem as suas obras...passei a vista pelos vários quadros expostos, observei os pintores que retocavam as suas últimas criações e fixei-me num que, por várias razões, chamou a minha atenção e, curiosamente, tanto eu como a Filipa, olhámos uma para a outra e dissemos em uníssono "só pode ser este!"
Concentrado no seu mais recente retrato e imperturbável perante todo o reboliço das pessoas que por ali passavam, o pintor exibia um chapéu que lhe cobria parte da face e uns óculos na ponta do nariz...aproximei-me e, no tom de voz mais baixo que consegui, expliquei-lhe como tinha ido ali parar e o que pretendia, enquanto tirava a fotografia da mala...ele desviou o seu olhar tímido por cima dos óculos, fez uma pausa, sorriu e disse "C`est une belle photo"...a partir daí, o nosso discurso alternou entre o português e o francês até conseguirmos chegar a um consenso.
De regresso à casa onde estaríamos por mais alguns dias, lembrei-me duma viagem a Paris, na companhia de uma amiga com quem sempre adorei passar férias e de um amigo que se revelou o melhor cicerone que alguém pode ter na cidade luz...aturou-nos, proporcionou-nos uma viagem divertidíssima, mostrou-nos todos os lugares emblemáticos da capital, levou-nos a bistrôs de comer e chorar por mais e ao melhor restaurante de que tenho memória e foi um guia exemplar nos museus que, com as suas descrições dos quadros, autores e épocas, fez-nos passar a olhar para a pintura com outros olhos...assim, embevecidos pela arte, numa bela manhã de Dezembro, decidimos ir até Montmartre e perdemo-nos no tempo enquanto admirávamos o trabalho de alguns pintores e eu tenho a plena consciência que, nesse dia, dei a seca da vida aos meus amigos quando decidi que dali não arredaria pé sem um quadro...no meio de tantas telas, a escolha adivinhava-se difícil e eu não queria um quadro qualquer, queria um que fosse o souvenir perfeito daquela viagem de sonho...e quando os meus amigos imploravam para que a decisão fosse célere, pois desfaleciam de fome e já só se imaginavam a degustar uma sopa de cebola gratinada com pão torrado (que aquece qualquer corpo e alma num dia de Inverno), a voz da minha amiga sussurrou-me ao ouvido "só pode ser este!", enquanto apontava para um quadro onde estava retratado um bistrô com a inscrição "CHEZ ANNE"...e foi mesmo o quadro eleito que, além de me trazer sempre à memória recordações fantásticas dumas férias inesquecíveis, tem um lugar privilegiado na minha sala e tem o dom de me fazer sentir verdadeiramente "em casa"...
Quanto ao retrato da Nônô, foi-nos entregue na véspera da nossa partida e ficará para sempre registada a alegria da Nônô quando se viu retratada no quadro e exclamou bem alto "É A NÔNÔ!!!"...ainda houve tempo para imortalizar o momento numa fotografia com o autor (merci Gérard Minéo!) e, como não poderia deixar de ser, a obra já se encontra emoldurada, pendurada numa parede e..."CHEZ ANNE"

Ana Pádua
16/09/2015 

o pintor, a obra e a "musa"
o quadro...


...e a fotografia que o originou



CHEZ ANNE

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O regresso às aulas e a ansiedade por separação

Para a Nônô, hoje começou um novo ano escolar, não o 1º, nem o 2º, mas sim o 3º!
Para mim, as férias também acabaram não há um, nem há dois, mas sim há três dias, o que significa que as nossas rotinas lentamente tiveram de voltar à "normalidade"...
No meu caso, a readaptação não foi difícil até porque já levo uns aninhos disto e sei que no 1º dia de trabalho pós-férias parece tudo maravilhoso, no 2º dia até pensamos que já tínhamos saudades da profissão, no 3º dia achamos que as férias fizeram o milagre da duplicação da paciência, no 4º dia começamos a "cair na real" e no 5º dia já só nos apetece voltar para o lugar de onde acabámos de sair...
Nos últimos dias, tentei convencer a Nônô que as suas férias também iriam acabar, que a escola estava prestes a começar, que iria ser fantástico rever os coleguinhas, contar-lhes as suas aventuras do Verão, escutar as histórias deles, conhecer as novas educadoras, descobrir os encantos e recantos da nova sala de aulas e blá, blá, blá...todos os dias o meu discurso era o mesmo e, lá por casa, já ninguém me podia ouvir e só me diziam que eu parecia um daqueles activistas da "esquerda caviar" a tentar mentalizar as massas...
A verdade é que com as crianças, a readaptação nem sempre é pacífica e, nalguns casos, chega mesmo a ser complicada, porque com tudo a que tiveram direito durante um mês de férias, entre as actividades apetecíveis que forçosamente são diminuídas e os horários a terem que ser reajustados, juntam-se mais algumas alterações na atenção (que deixa de ser exclusiva), nos mimos (que têm de ser partilhados) e na presença (não tão constante) de todos aqueles que lhes são próximos, por isso, é de prever que no regresso às aulas, algumas criancinhas sofram de ansiedade por separação que, nos primeiros dias do ano lectivo, geralmente se traduz em choro convulsivo ou berraria desenfreada, apertos sufocantes no pescoço dos pais e posterior isolamento por tempo indeterminado num qualquer canto da sala de aulas e, embora muitas vezes estes comportamentos sejam interpretados como parte da personalidade de cada  indivíduo, na verdade são o resultado da sua incapacidade para lidar com a situação...
Felizmente nunca tive de passar por estas situações que são aflitivas e constrangedoras, mas desde que a Nônô iniciou o seu percurso escolar, resolvi adoptar a técnica ensinada a quem tem de lidar com animais de 4 patas que também sofrem de ansiedade por separação e que, na ausência dos seus donos de estimação, resolvem passar o dia a vocalizar latidos e uivos, a destruir a casa sob as mais diversas formas e, no pior dos cenários, a optar pela auto-flagelação.
A técnica, em poucas palavras, consiste em não fazer grandes dramas na despedida (e nem são referidas lágrimas que são perfeitamente desnecessárias), com beijos e mais beijos, festas e festinhas e mais todas as outras manifestações excessivas de amor (que podem e devem ser guardadas para outras ocasiões), sendo também conveniente nos reencontros controlar todas as manifestações excessivas de euforia, ou seja, desvalorizar tanto as "partidas" como as "chegadas", com o único objectivo de não transformar a separação e a ausência em algo severamente angustiante...e connosco tem resultado!
Todas as manhãs, e à porta da sala de aulas, temos ainda um "ritual" baseado numa pequena conversa onde consta sempre uma recomendação "porta-te bem", seguida de um "shot" para reforço da sua confiança com a frase "gosto muito de ti", a que se segue a promessa sempre cumprida "já venho buscar-te" e, por fim, o indispensável beijo para selar o compromisso...e, tal como de há dois anos a esta parte, esta manhã, com esta conversa e muito entusiasmo, lá se iniciou mais um ano escolar!


Ana Pádua
04/09/2015

WELCOME BACK TO SCHOOL

sexta-feira, 31 de julho de 2015

...e o ano lectivo chegou ao fim!

Durante os últimos 15 dias, as frases que a Nônô mais gostava de completar eram: "A Nônô está quase de..." e logo se ouvia a palavra mágica "FÉRIAS!" e para a frase "E nas férias não há...", seguia-se um entusiasmante grito "ESCOLA!"
E eu também já estou quase na mesma e já só me apetece gritar por qualquer coisa do género...mas enquanto o meu desejado dia não chega, vou contemplando belas fotos em tudo o que é instagram de "patas" alheias arranjadinhas e expostas sob um sol radioso e com lindas paisagens de fundo que invariavelmente englobam uma praia paradisíaca ou uma piscina qualquer e vou-me alegrando com a felicidade da Nônô que durante um mês in-tei-ri-nho sabe que terá direito a muitos mergulhos, gelados, passeios e diversão e, claro, ausência de horários porque  finalmente está de férias e o ano lectivo chegou ao fim!
Nesta altura do ano, como aliás noutras muito específicas, é frequente os pais serem convocados para se deslocarem à escola dos filhos. Ainda me lembro do primeiro evento para que fomos convidados, num Natal não muito longínquo, em que o Pedro resolveu ir munido de tudo o que era máquina de filmar e fotografar, na esperança de assistir a um teatrinho natalício protagonizado pelas criancinhas ou um qualquer cântico alusivo à quadra interpretado pelos mais pequenos, mas assim que chegámos, tal como todos os familiares presentes, fomos recrutados para a execução de uma série de trabalhos manuais numa tentativa de integrar nas actividades miúdos e graúdos e não tivemos mais sossego...agora sabemos sempre ao que vamos e, na escola que a Nônô frequenta, não há festas de fim de ano, viagens de finalistas, arraiais ou outros eventos que tais para assinalar a data, mas no fim de cada ano lectivo, reunimo-nos com as educadoras e somos presenteados com um livro personalizado, onde é relatada a evolução do percurso escolar de cada criança bem como todas as actividades desenvolvidas, ilustrado com fotografias, desenhos e tudo o que por elas foi feito ao longo do ano, ou seja, uma espécie de memorando para memória futura e, sem dúvida, que é muito gratificante ver o empenho e a dedicação que as educadoras colocam na execução de cada exemplar!
Há quem diga que alguns professores têm a capacidade de marcar a nossa vida, ensinando-nos muito para além do que vem nos manuais, e eu tive alguns...lembro-me duma professora de português e outra de francês, dum professor de matemática e de mais dois ou três que se cruzaram no meu percurso enquanto estudante, mas nunca imaginei que, um dia, educadoras de infância pudessem marcar a vida das crianças e a nossa também!
De facto, foi um ano que valeu por cada instante, valeu pela vontade de aprender e pela alegria de crescer! Para o ano, a Nônô terá o privilégio de conhecer novas educadoras, mas é reconfortante saber que a Luísa e a Guidó estarão sempre por perto, noutra sala é certo, mas sempre perto da nossa vista e do nosso coração...
Nunca esqueceremos o método e a disciplina, a organização e a distribuição de tarefas, o carinho e a preocupação, o encorajamento à autonomia e a valorização dos progressos, o incentivo à partilha e à inter-ajuda, a evolução da linguagem que foi fascinante e a construção do pensamento que se tornou uma constante.
É com enorme satisfação que sabemos todas as músicas ouvidas, as canções entoadas, as histórias contadas, as lenga-lengas memorizadas, os pequenos estudos realizados (sobre a natureza, os animais e os frutos), os jogos preferidos, as receitas culinárias executadas e vemos a evolução das crianças ao nível do desenho, da pintura e da língua materna e, acima de tudo, apreciamos o incentivo, desde muito cedo, à escrita...obviamente que nesta idade a escrita resume-se a uns traços que depois evoluem para uns hieróglifos tipo círculos, mas o que verdadeiramente importa é que as crianças são estimuladas a partilharem vivências e a contarem histórias, verdadeiras ou ficcionadas ou uma mistura de ambas (que é o que mais predomina nesta faixa etária) e, enquanto as crianças falam, as educadoras transcrevem para o papel o que é relatado e, assim, vão despertando a sua curiosidade e interesse pela escrita...e é tão recompensador ver a evolução dos textos que, no início do ano, regra geral não passam das 3 linhas, para os últimos onde já são contadas verdadeiras histórias...claro que eu já elegi o texto que para a Nônô deve ter correspondido ao momento alto do seu ano e, como não poderia deixar de ser, foi o "Festival do Panda"...e aqui fica para memória futura!

Ana Pádua
31/07/2015


o texto livre...
...e a intenção de escrita
um mimo para a Luísa...
...e outro para a Guidó