Há já algum tempo que tinha a intenção de pedir a alguém que retratasse a Nônô num quadro...pesquisei, pesquisei muito e tudo o que encontrava, me indicavam ou me aconselhavam, por um motivo, por outro ou por vários, em nada correspondia ao que eu tinha idealizado...
Um dia, enquanto esperava pela impressão dumas fotografias numa loja que frequento habitualmente, entra uma senhora com uma criancinha segura por uma mão e um quadro para emoldurar na outra...os meus olhos fixaram-se durante uns minutos no quadro, em seguida, desviaram-se para a criança e, nesse preciso momento, percebi que estava ali mesmo o que eu incessantemente procurava. Sem grandes rodeios, abordei a senhora que se revelou muito simpática e disponibilizou-me logo a fotografia através da qual o quadro tinha sido feito e disse-me que, tal como eu, também ela já havia percorrido seca e meca à procura de alguém que retratasse o filho, porque isto de pintar é tudo muito lindo, mas conseguir captar expressões faciais tem muito que se lhe diga...disse-me ainda que o seu quadro tinha sido pintado por um artista descoberto por mero acaso durante um passeio no local onde, por coincidência, nós estaríamos de férias na semana seguinte; disse-me ainda que não se lembrava do nome do pintor e eu ainda olhei para a assinatura mas, tal como a maior parte delas, revelou-se ilegível e, conversa terminada, a fotografia da Nônô foi o primeiro objecto a "marchar" para o interior da minha mala de viagem...
A fotografia elegida foi tirada no dia em que a Nônô completou três
anos e, para mim, tem muito significado, não só porque consegui captar-lhe
uma expressão de felicidade genuína quando viu o bolo de aniversário (uma Kitty), mas porque naquele momento, o seu sorriso foi a minha minha maior recompensa num autêntico caso de "prometido é devido"...
Já no nosso destino de férias e, assim que tive oportunidade, fui passear com a Nônô e a minha sobrinha Filipa até ao local onde eventualmente estaria o pintor e, quando lá chegámos, deparámo-nos com o talento de vários artistas, sentados e de costas voltadas para os transeuntes que ali passavam e paravam para contemplarem as suas obras...passei a vista pelos vários quadros expostos, observei os pintores que retocavam as suas últimas criações e fixei-me num que, por várias razões, chamou a minha atenção e, curiosamente, tanto eu como a Filipa, olhámos uma para a outra e dissemos em uníssono "só pode ser este!"
Concentrado no seu mais recente retrato e imperturbável perante todo o reboliço das pessoas que por ali passavam, o pintor exibia um chapéu que lhe cobria parte da face e uns óculos na ponta do nariz...aproximei-me e, no tom de voz mais baixo que consegui, expliquei-lhe como tinha ido ali parar e o que pretendia, enquanto tirava a fotografia da mala...ele desviou o seu olhar tímido por cima dos óculos, fez uma pausa, sorriu e disse "C`est une belle photo"...a partir daí, o nosso discurso alternou entre o português e o francês até conseguirmos chegar a um consenso.
De regresso à casa onde estaríamos por mais alguns dias, lembrei-me duma viagem a Paris, na companhia
de uma amiga com quem sempre adorei passar férias e de um amigo que se
revelou o melhor cicerone que alguém pode ter na cidade luz...aturou-nos, proporcionou-nos uma viagem divertidíssima, mostrou-nos todos os lugares emblemáticos da capital, levou-nos a bistrôs de comer e chorar por mais e ao melhor restaurante de que tenho memória e foi um
guia exemplar nos museus que, com as suas descrições dos quadros, autores e épocas, fez-nos passar a olhar para a pintura com outros olhos...assim, embevecidos pela arte, numa
bela manhã de Dezembro, decidimos ir até Montmartre e perdemo-nos no tempo enquanto admirávamos o trabalho de alguns pintores e eu tenho a plena consciência que, nesse dia, dei a seca da
vida aos meus amigos quando decidi que dali não arredaria pé sem um
quadro...no meio de tantas telas, a escolha adivinhava-se difícil e eu
não queria um quadro qualquer, queria um que fosse o souvenir perfeito daquela viagem de sonho...e quando os meus amigos imploravam para que a decisão fosse célere, pois desfaleciam de fome e já só se imaginavam a degustar uma sopa de
cebola gratinada com pão torrado (que aquece qualquer corpo e alma num dia de
Inverno), a voz da minha amiga sussurrou-me ao ouvido "só pode
ser este!", enquanto apontava para um quadro onde estava retratado um
bistrô com a inscrição "CHEZ ANNE"...e foi mesmo o quadro eleito que,
além de me trazer sempre à memória recordações fantásticas dumas férias
inesquecíveis, tem um lugar privilegiado na minha sala e tem o dom de me fazer sentir verdadeiramente "em casa"...
Quanto ao retrato da Nônô, foi-nos entregue na véspera da nossa partida e ficará para sempre registada a alegria da Nônô quando se viu retratada no quadro e exclamou bem alto "É A NÔNÔ!!!"...ainda houve tempo para imortalizar o momento numa fotografia com o autor (merci Gérard Minéo!) e, como não poderia deixar de ser, a obra já se encontra emoldurada, pendurada numa parede e..."CHEZ ANNE"
16/09/2015
o pintor, a obra e a "musa" |
o quadro... |
...e a fotografia que o originou |
CHEZ ANNE |
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