Há uns meses, a avó Nhônhõ encontrou uma gatinha bebé no meio da estrada...uma fêmea preta com uns ínfimos pêlos brancos disseminados por todo o corpo e uma cauda eriçada que se assemelhava à de um esquilo; estava completamente esfomeada, desorientada e doente, pelo que foi recolhida, não só para eu tratar, mas também para tratar de arranjar-lhe um dono...
Previa-se que a sua sina não estivesse traçada na palma da mão (ou melhor, pata), mas na sua identidade de género e na cor da sua pelagem e tudo porque a maioria das pessoas, apesar de estarem sempre em constante negação, são machistas e muuuiiiiito supersticiosas.
Ao longo da vida tive três cães, curiosamente todos eles pretos...o
Kimba com quem convivi nos meus primeiros anos de vida, o Cocas que
acompanhou toda a minha infância e adolescência e, por último, o Paquito
que me fez compreender porque é que existem os cães d`água e depois
todos os outros animais...quanto a gatos, sempre foram uma constante na
minha vida e, por casa da minha mãe, devem ter passado todas as pelagens
que os europeus comuns suportam, desde brancos a pretos, pretos e brancos, tartarugas,
cinzas, amarelos, tigrados e mais alguns que já nem me lembro da cor...
Enquanto eu procurava e desesperava por um adoptante, o tempo passava, o animal melhorava e a Nônô afeiçoava-se àquele ser indefeso, a quem começou por chamar "gatinha bebé" e, ao vislumbrar este cenário que era deveras promissor, tentei convencer a Nônô que a gatinha estava ali em convalescença e que teríamos de encontrar-lhe um dono, mas a resposta da Nônô era sempre "EU SOU A DONA!"...e daí até ao baptismo da gata foi um pulinho e a "gatinha bebé" passou a chamar-se Kitty...
A Hello Kitty era uma daquelas personagens que eu tolerava (não amava é certo, mas simpatizava) até que vi a minha vida ser literalmente invadida, por todos os lados e direcções, pela gata mais famosa do mundo...a Nônô é uma "Kitty lover" e eu já só tropeço em ganchos, pulseiras, colares, relógios, lápis, canetas, cadernos, blocos, malas, malinhas e malões, chapéus, bolas, braçadeiras e sei lá eu mais o quê, tudo o que diariamente se encontra espalhado pelo chão da casa, o que me fez passar a olhar para a referida personagem com outros olhos...para meu regozijo, constou-me que a gata está em vias de extinção devido aos constantes plágios de que tem sido alvo; não sei se este é o verdadeiro motivo para o seu eclipse, mas não cabo em mim de contentamento, até porque já me apercebi que o meu eterno ídolo, o Snoopy, está de volta e, este sim, é um personagem com graça!
Mas a "gatinha bebé" ficou mesmo Kitty e, a partir daí, a nossa vida mudou e a dela também...o animal passou a
não ter um segundo de descanso, salvo as horas em que a Nônô está na
escola porque, assim que chega, não há entretenimento melhor que desfrutar da companhia da Kitty que constantemente é abraçada, beijada, apertada e ainda tem de ouvir histórias para adormecer e sermões quando a Nônô entende que o seu comportamento não é o mais
adequado e, incrivelmente, a gata permanece sempre estática e nunca põe as garras de fora e é enternecedor observar a interacção das duas, que além de terem uma empatia mútua, já não vivem uma sem a outra...
Pelos mais variados motivos, tenho imenso respeito e admiração
por quem se dedica à causa animal, mas com o passar dos anos, apercebi-me que, regra geral, os donos de felinos são mais pragmáticos que os proprietários de canídeos mas, no que toca à defesa das espécies, o quadro inverte-se e as protectoras dos cães são muito mais descomplicadas que as "maluquinhas" dos gatos" e começa logo porque, para estas últimas, nenhum adoptante tem perfil para o ser...ou é porque vive num apartamento e os animais podem tentar o suicídio e "voar" de alguma janela, ou é porque se habita numa casa com jardim e os gatos podem escapulir-se pelo gradeamento (a não ser que a vedação seja inspirada em Auschwitz) e
acabarem debaixo de um carro ou na boca de um cão, ou é porque vão coabitar com outros animais e podem vir a sofrer de algum stress traumático
ou de outra enfermidade qualquer e, a encabeçar os pré-requisitos que aniquilam qualquer potencial
adoptante, estão as crianças! Eu sei
que há uns pestinhas que rasam a crueldade e o sadismo e só apetece bater-lhes (a começar logo pelos progenitores), mas a
grande maioria das crianças são naturalmente dóceis para com os animais e, esta saudável convivência, além de proporcionar muita diversão e brincadeiras em família, ainda tem o benefício de ajudar a reforçar a auto-estima (num precioso combate à timidez, ao medo e à ansiedade) e, acima de tudo, ensina a responsabilizar, que neste caso específico, é sinónimo de amar, cuidar e tratar...
Bom, quanto à Kitty, actualmente está em casa da avó Nhõnhõ, onde
convive com mais dois semelhantes que, em vez de stress e enfermidades, transmitem-lhe afectos; tem um jardim à sua disposição para brincar e subir às árvores e onde aprenderá naturalmente a defender-se dos perigos exteriores mas, o mais certo é daqui
por uns tempos ir viver para um apartamento onde a segurança já é
forçosamente reforçada para que ninguém se aventure a testar as leis da
gravidade e, sem dúvida, o mais engraçado nesta história foi ter sido a Nônô a responsável pela sua adopção e não tivemos outra alternativa senão dizer: "Hello, Kitty!"
Ana Pádua
Mais uma vez brilhante! Uma história bonita transformada num tesouro pelo dom da palavra...
ResponderEliminarObrigado Veruska! Podes sempre convidar-me para escrever o prefácio do teu próximo livro :-) e, por falar no teu livro, já li (assim como a minha mãe), está aprovado e amei a capa! P.S- Se o quadro que deu origem à capa do teu livro entrar em saldos, liga-me porque é lindo.
ResponderEliminarBjo grande
Muito bom amiga totalmente de acordo com a escolha da Nono I am a cat's lover
ResponderEliminarMuito bom amiga totalmente de acordo com a escolha da Nono I am a cat's lover
ResponderEliminarPaula, you are a cat woman!... :-)
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