sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

...a magia do Natal quase se foi!

O Natal é tempo de união, de harmonia, de reunião e também de magia, tanto para os adultos que, salvo raras excepções, se deixam contagiar pela boa disposição, como para as crianças, cujo imaginário as deixa sonhar, mas este ano a magia do Natal quase se foi...
Eu tinha um vago pressentimento que a Nônô iria começar a questionar a existência do pai Natal, uma vez que, na escola que frequenta, convive na mesma sala com crianças mais velhas e eu sempre pensei que haveria um "espertinho" que iria desbocar-se e acabar com a magia da quadra, mas felizmente enganei-me! Na escola da Nônô, vivem com grande entusiasmo a chegada do pai Natal e conseguem a proeza de manter tudo em segredo e até mesmo acerca da festa de Natal não se consegue "arrancar" uma única palavra às criancinhas que mantêm tudo no maior dos secretismos e mesmo que alguém questione a existência do velhote de barbas brancas, disfarça bem...
Mas, este ano, a Nônô começou a ver o pai Natal em vários locais e, como um dos seus hobbies preferidos é assinalar as diferenças em desenhos, não foi difícil aperceber-se que existiam inúmeras discrepâncias entre os velhotes de barbas brancas e começou por dizer que o pai Natal do mercado era mais "fino" (sendo fino, neste contexto, magro) que o do Cascaishopping (que até tem umas estupendaças a acompanha-lo, mas que em nada se assemelham à figura da mãe Natal); afirmava também que o pai Natal que foi à escola tinha óculos escuros, ou seja, deve ser do mesmo "clube" do que vai a nossa casa, porque usa o mesmo complemento com o objectivo de não ser identificado e eu, que comecei por dizer que era sempre o mesmo, fui aconselhada pela minha mãe a dizer que existia um, por assim dizer o chefe dos pais Natal, e os outros eram os seus ajudantes porque o velhote não conseguiria chegar atempadamente a todas as casa na noite da consoada. A história "pegou", pelo menos até ver e, para dar alguma credibilidade a isto tudo, sempre que via um pai Natal, dirigia-me a ele e dizia-lhe para não se esquecer do pedido da Nônô e ainda lhe expressava o meu desejo acerca do presente que queria no meu próprio sapatinho e tenho mesmo a noção que alguns deles já nem me podiam ver nem ouvir...
A juntar à festa, deixei inadvertidamente um saco com presentes esquecido numa divisão do lar, doce lar e, numa bela manhã de Dezembro, comecei a ouvir os gritos efusivos da Nônô que me chamava para constatar a sorte que tínhamos porque o pai Natal já deixara alguns presentes lá em casa...eu saltei da banheira, enrolei-me numa toalha, corri para junto dela e a única coisa que me veio à cabeça foi dizer-lhe que eram os presentes de aniversário do tio João (que será só no próximo ano) e, para dissuadi-la de querer abri-los, fui adiantando que se tratava dumas garrafas de vinho e de mais uns apetrechos para abri-las, ou seja, dei cabo da reputação do meu irmão (que nem sequer bebe) e, como se não bastasse, da próximo vez que o tio João festejar mais um ano de vida, lá terá de levar com uma garrafita de qualquer coisa alcoólica para dar confiabilidade à história, uma vez que a Nônô regista tudo na sua memória...daí para a frente, sempre que a Nônô via algum embrulho, eu apressava-me a dizer que era um presente de aniversário, o que fez com que quase todos os nossos amigos e familiares passassem a ter nascido no último mês do ano!
Enfim, não tem sido nada fácil manter alguma da magia do Natal, mas como a fé da Nônô concentra-se mais na figura do anjo da guarda que habitualmente é quem a presenteia pelo seu bom comportamento, mesmo que o pai Natal, o coelho da Páscoa e a fada dos dentes desapareçam do seu imaginário, haverá sempre lugar para que a magia desta época se mantenha...
Um Santo Natal para todos e que a magia própria desta quadra se estenda a todos os dias do Ano Novo!

Ana Pádua
23/12/2016

Nônô e Pai Natal

sábado, 17 de dezembro de 2016

Bye Bye Didi, see you

O último trimestre de 2016 foi de grandes vitórias para a Nônô...passou a dormir no seu quarto, as fraldas nocturnas passaram de vez a fazer parte do passado e disse "bye bye" à adorada chucha...eu sempre pensei que a última conquista fosse a mais difícil, mas inacreditavelmente revelou-se, de todas, a mais pacífica. Na última consulta de pediatria e depois de contarmos ao médico os últimos feitos heróicos da Nônô, ele disse que é frequente estes triunfos sucederem-se em catadupa, porque as crianças tem necessidade de provar as suas capacidades e afirmar o seu crescimento e salientou que o mais importante é nunca força-las a nada...
Em Outubro, contra tudo e contra todos os que achavam que estava mais que na altura de tirar a chucha à Nônô, eu decidi que estava era mais que na altura de substituir a velhinha chucha (que se encontrava num estado lastimável e mais parecia estar a ser comida por roedores) por uma nova. A referida chucha datava de há 4 anos, pelo que encontrar outra igualzinha seria uma missão quase impossível, uma vez que as marcas reinventam-se a cada ano e fazem novas edições, com novos designs, novas cores e até novas formas, mas numa visita a uma farmácia, olhei para o expositor das chuchas e lá estava um pack (composto por duas chuchas de cores diferentes) igual ao que há 4 anos eu havia comprado para a Nônô...era único e mais parecia estar propositadamente à minha espera, pelo que foi logo "caçado", pago e levado com entusiasmo para casa, como se da última coca-cola do deserto se tratasse...
Nessa noite, sentei a Nônô ao colo e disse-lhe que íamos ter uma conversa; lá lhe fui explicando que a adorada "didi" estava em muito mau estado e que o anjo da guarda (que é a autoridade máxima em tudo lá por casa) tinha vindo busca-la e, com tanta sorte, tinha deixado outra igualzinha que agora eu segurava na minha mão...a Nônô olhou para a chucha, colocou-a na boca, retirou-a abruptamente e disse-me "mãe, não gosto deste sabor" e eu nem quis sequer imaginar ao que sabia a velha chucha! Bom, continuámos a nossa conversa e a Nônô acabou por aceder a experimentar a chucha nova, mas com os olhos rasos de água disse-me "eu gostava tanto de me ter despedido da chucha" e foi aí que eu vacilei e só me apeteceu ir buscar a chucha velha ao armário e acabar de vez com o drama...mas mantive-me firme, não cedi, confortei-a e prometi-lhe que iria pedir ao anjo da guarda que a colocasse no nosso quadro das chuchas para que ela se pudesse despedir. A mudança de chucha foi pacífica e, por isso, deixei passar uns dias e, quando a Nônô já nem perguntava pela chucha velha, ela apareceu no quadro das chuchas para grande alegria da Nônô que passou a contempla-la todas as noites antes de adormecer, enquanto a chucha nova começava a ganhar aquele gosto que eu nem consigo nem quero sequer imaginar o sabor!
Um dia e durante um ataque de mau génio, vulgo BIRRA, a Nônô atirou com a chucha nova para o chão e a mesma ficou separada em duas partes: de um lado a argola presa à inseparável fralda e, do outro, a parte plástica mais o latex e, se até então, o stress já era grande quando não sabíamos da chucha, passou a ser ainda maior porque a chucha, propriamente dita, passava a vida a soltar-se da argola e a meio da noite lá ia parar a um sítio incerto, até que no dia 22 de Novembro tudo mudou! Na noite anterior a Nônô adormeceu como habitualmente com a chucha e na manhã seguinte acordou sem ela...até aqui nada de especial até porque desde há muito tempo que a chucha servia mesmo só para o aconchego na hora de adormecer, a meio da noite perdia-se e de manhã era encontrada ou dentro a cama, ou debaixo da almofada ou mesmo no chão, mas nesse dia não, a Nônô acordou sem chucha e...nada dela! Revolvi a cama, vasculhei o chão, virei a casa do avesso e nada da chucha. Como era 3ª feira, chegou a casa a querida Carla, que me ajuda nas tarefas domésticas uma vez por semana e a quem eu contei o sucedido e rapidamente prontificou-se a ajudar-me...aliás eu disse-lhe mesmo que a prioridade naquela manhã era encontrar a chucha da Nônô e o trabalho doméstico que se danasse! 
Cheguei a casa para almoçar e nem sinal da chucha, fiz uma nova vistoria à casa e o mistério permanecia por desvendar e foi aí que eu comecei a ver a minha vidinha a andar para trás...fui buscar a Nônô à escola, contei-lhe que a chucha estava inexplicavelmente desaparecida e comecei logo a mentaliza-la para o pior dos cenários, dizendo sempre que só podia ter sido o anjo da guarda que a teria levado e que eu ia rezar para ele trazê-la de volta. Para meu espanto, a Nônô disse-me "mãe, o anjo da guarda não precisa de trazer a chucha, mas diz-lhe para fazer o favor de coloca-la no quadro ao pé das outras", que basicamente era tudo o que eu queria ouvir caso soubesse da chucha, mas o problema é que eu não sabia do seu paradeiro...e os dias foram passando e a chucha não aparecia e, todos os dias, a Nônô verificava se já estava junto da sua colecção e eu só pedia a todos os anjos e mais aos arcanjos para porem a chucha rapidamente no meu caminho para a história ter um ponto final, mesmo eu, que adoro reticências por significarem que nada acabou e que tudo pode acontecer, queria pôr um ponto final nesta história que alimentei, fomentei e incentivei durante 4 anos e tal...e o anjo da guarda ouviu-me e, num belo dia, enquanto eu arrumava uns pertences da Nônô atirados para dentro de um saco onde ela habitualmente guarda toda a espécie de tralha que não tem a mais pequena utilidade, lá estava a chucha, que rapidamente se juntou à sua colecção que, apesar de GRANDE, finalmente está completa!
Vitória, Vitória, acabou-se a história e vamos guarda-la para sempre na nossa memória.
 
Ana Pádua
19/12/2016

o GRANDE tesouro

every

"didi"




tells


a

story


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O milagre...

Há dois meses que recebemos em nossa casa um peixe a quem originariamente a Nônô chamou Coraçãozinho mas depressa o rebaptizou de Nemo. O peixe foi a recompensa por finalmente a Nônô pernoitar no seu quarto e já conquistou o nosso coração e passou a fazer parte da nossa vida...tornou-se um fiel amigo e um aliado, principalmente porque as nossas manhãs deixaram de ser stressantes, acabaram-se as birras matinais e o acordar é sempre pacífico tal é a ânsia para tratar do peixinho...
Eu pensei que o seu entusiasmo fosse só nos primeiros dias e que o trabalho sobrasse todo para mim, mas a Nônô revelou-se uma cuidadora responsável e uma das suas tarefas é alimentar o peixe. É de uma preocupação extrema com a quantidade de comida que lhe oferece e não há dia em que não me venha mostrar se a dose é a correcta e recomendada para o animal. À parte disto, tudo o que são brindes alusivos ao Nemo (daqueles que saem nuns ovos de chocolate que depois sou eu que os tenho de ingerir) são para oferecer ao peixe e, como foi advertida que não poderia coloca-los dentro do aquário, vão-se multiplicando ao redor do mesmo e a sua última oferta para o animal de estimação foi um livro intitulado "Tesouros das profundezas" que vinha acompanhado por uns óculos 3D que devem dar um jeitão à criatura...
O peixe passou a ser o centro da sua atenção, tornou-se uma apaixonada pela história do Nemo, o seu mundo gira em redor de tudo o que ao mundo subaquático diz respeito e o seu quarto mais parece o museu do mar. Convictamente diz saber TUDO sobre o assunto, contrariamente a mim que não sei nada e valho-me sempre da sabedoria dum querido professor que tive na faculdade e que seguramente é quem mais sabe desta matéria e está sempre disposto a ajudar-me com preciosos conselhos que sigo à risca, numa tentativa do nosso Nemo ser o Manoel de Oliveira da piscicultura...
No último Sábado, saí de casa cedo e regressei tarde, entre o trabalho de manhã e a vadiagem do resto do dia, devo ter estado ausente para aí umas 10 horas, pelo que cheguei ao lar, doce lar, mesmo a tempo de esperar a Nônô que também andou a passear durante o mesmo período de tempo...enquanto aguardava, decidi dar uns flocos de alimento ao Nemo, o que faço todas as noites à socapa e sem a permissão da Nônô, que não pode sequer imaginar que o peixe come duas vezes ao dia, mas eu sempre considerei que não seriam três flocos a mais daquela mistela que contribuiriam para o seu fim...
Quando me aproximei do aquário não avistei o Nemo, olhei melhor e nada do peixe, revolvi todas as pedrinhas do fundo e mais o arvoredo do meio e nem sinal de ser vivo...incrédula, sentei-me na cama da Nônô e, quando pus os olhos no chão, lá estava o Nemo esticado sobre o tapete, em decúbito lateral, inerte e sem sinal vital. Fui literalmente "varrida" por uma onda de tristeza e terror e eu, que até sou uma pessoa contida nas emoções, soltei um valente grito que deve ter ecoado por toda a vizinhança. Depois comecei a pensar que inexplicavelmente o peixe só poderia ter saltado do aquário, algo que nunca me passou pela cabeça que pudesse acontecer mas que na realidade aconteceu e, pior, tanto poderia ter sido há 10 minutos como há 10 horas! Corri para o telefone em busca do apoio psicológico que só encontro junto da minha mãe (que também ficou estarrecida com o sucedido) e juntas tentámos encontrar uma solução para a Nõnô não ter o seu primeiro desgosto quando chegasse a casa. Assim, concordámos que a melhor opção seria colocar o peixe no aquário e dizer-lhe que estava a fazer oó e de manhã continuaria a fazer oó até eu conseguir ir a uma loja de animais à procura do Nemo, ou melhor, do seu sucessor. Desliguei o telefone, peguei no peixe pela barbatana caudal e coloquei-o na água e, enquanto esperava que ele viesse à tona, comecei a imaginar qual seria a melhor maneira de prendê-lo no fundo do aquário a dormir o belo do "soninho" descansado...mas o peixe nunca mais vinha à superfície e, para meu espanto, estava numa posição correcta, ou seja, na horizontal, direitinho e sem tombar para nenhum dos lados...comecei a olhar para ele e pareceu-me ver os opérculos a mexer, fixei-o novamente e lá estavam eles a abrir e a fechar, resolvi dar umas pancadinhas no aquário e, por incrível que pareça, o peixe começou timidamente a nadar e eu, que nem estava a acreditar no que via, só me lembro de verter o frasco do alimento que, num ápice, foi devorado...
Tenho a minha fé, embora nunca tenha acreditado muito em milagres mas, a verdade, é que nesse dia o peixe deve ter visto a tal da luzinha ao fundo do túnel por diversas vezes!...primeiro porque voou de uma altura considerável de seguramente mais de um metro e aterrou literalmente com os "costados" no chão, depois porque esteve fora de água um tempo (que eu não sei precisar) mas que foi o suficiente para ficar imóvel e nem estou a contabilizar todos os minutos que estive ao telefone com a minha mãe e, por último, o holofote ao fundo do túnel foi mesmo avistado quando, de certo, as minhas botas rasaram o seu delicado corpinho que jazia aos meus pés e eu, sem saber, remexia o aquário à sua procura...
Claro que já contei esta história a algumas pessoas (eu, se a ouvisse da boca de quem quer que fosse, não acreditava!) e felizmente, para bem da minha sanidade mental, uma amiga garantiu-me que já lhe aconteceu o mesmo, uma vez com final feliz, outra nem por isso...
A causa deste incidente foi identificada e prendeu-se com o facto de, nesse dia, o nível da água do aquário estar ligeiramente acima da média habitual e, portanto, tratei logo de diminuir o seu volume, agora não sei se o meu grito foi determinante para o Nemo acordar para a vida ou se a minha colecção de santos (que para além da fama de casamenteiros, são os milagreiros por excelência) foi responsável pela ressurreição do animal, sei que, à semelhança do Santo António, quando não me quiserem ouvir e derem tudo por uns minutos de silêncio na minha companhia, também eu tenho sempre um peixe a quem pregar um sermão...
...de qualquer modo, yo no creo en milagros, pero que los hay, los hay!

Ana Pádua
09/11/2016 

finding Nemo
os brinquedos do Nemo...
...e a leitura do Nemo com óculos 3D

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Doçura ou travessura???

A Nônô delira com o Halloween e é assim desde os dois anos de idade...não sei de onde herdou este gosto porque na família ninguém tem paciência para "carnavaladas" nem tão pouco para "americanadas" importadas.
De princípio ainda pensei que fosse pelo teor de guloseimas e pela carga de chocolate associada a esta data ou até mesmo pelas cores alusivas a este dia como o roxo, o laranja e o preto que, por sinal, são as suas preferidas, mas depressa me apercebi que a Nõnô vibra mesmo com abóboras, bruxas, fantasmas, gatos pretos e acima de tudo com morcegos! Chega a ser cómico porque não lhe escapa nada que faça parte deste mundo assombrado e, como gosta tanto de doces e de pregar partidas, a comemoração é mesmo especial! 
Um dos primeiros objectos que teve relacionados com este tema assustador foram uns ganchos com uns morcegos que, por graça, comprei há uns anos atrás e que fazem sucesso até hoje...seguiu-se uma varinha com uma abóbora, umas asas e umas orelhas de morcego, um chapéu de bruxa, um fato ao estilo "thriller" (herdado do Antoninho) e a surpresa deste ano foram umas meias repletas de morcegos que estavam bem guardadas mas, não sei bem como, foram descobertas antes da data prevista e foi difícil convencer a Nônô a guarda-las até hoje, o dia das bruxas!
Eu sempre considerei um pouco estranho esta tradição pagã anteceder celebrações cristãs, ou seja, ser na véspera do dia de todos os santos e na antevéspera do dia dos fieis defuntos e, apesar da idade me ter feito compreender que a morte também faz parte da vida, continua a ser um tema do qual não gosto muito de falar e, por isso, nunca foi um assunto abordado com a Nônô que já conheceu pessoas maravilhosas que deixaram muitas saudades...reconforta-me saber que, ao desfolharmos os nossos álbuns de fotografias, ela tenha presente na sua memória o nome de todos aqueles que a amaram incondicionalmente, como o Victor, a Bea e a Paula e que, infelizmente, não puderam acompanhar o seu crescimento como eu desejaria...comove-me sempre e disfarço a lágrima que fica no canto do olho, mas faço questão de manter por perto alguns objectos oferecidos por esses amigos e salientar o quanto gostavam da Nônô.
Mas, não sei se correcta ou incorrectamente, a palavra morte sempre foi interdita cá em casa e o assunto até era um pouco tabu, tudo para não termos de explicar à Nônô, algo que eu considero que ela ainda tem muito tempo para tomar consciência, até ao dia em que passeávamos no parque e avistámos um pombo moribundo e eu apressei-me a dizer-lhe que o bicho estava a dormir, ao que ela me respondeu "Mãe, não está nada a dormir, está mesmo morto!". Eu fiquei mesmo foi sem "pio" por uns breves minutinhos até me lembrar de perguntar como é que ela sabia, ao que a Nônô me respondeu que tinha aprendido com o Ruca, esse estupor de boneco animado, a quem o respectivo paizinho resolveu explicar o assunto num episódio que me deve ter escapado!...
Por agora, enquanto a Nônô se prepara para visitar alguém e fazer as perguntas da praxe deste dia, como sejam "doçura ou travessura?" e "doce ou partida?" eu vou pegar na minha vassoura, encontrar o Ruca e o respectivo paizinho e pregar-lhes um susto de morte...

Ana Pádua
31/10/2016 

my little batwoman
morcegos...
morcegos...
...e mais morcegos
doçura...

...e travessura

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Nônô by Ana Mercedes

O programa preferido da Nônô é ir para a minha clínica, ou melhor dizendo, "clíquina" que é a palavra usada para se referir ao meu local de trabalho. É a única palavra que não consigo corrigir-lhe a fonética e, apesar das inúmeras tentativas que faço, a missão tem-se revelado impossível e é frequente a Nônô perguntar às pessoas se conhecem a minha "clíquina" e convidar quem se lembra para uma visita à "clíquina"...o pior é que mexe em tudo (no que pode e mais no que não pode), desarruma, considera-se "dona" do estabelecimento, diz às pessoas que é veterinária e, como se não bastasse, ainda se intitula doutora e já vai opinando qualquer coisa!...
Há uns meses atrás, conheci a Ana (por intermédio de uma amiga comum) e concordei em recebê-la na minha clínica onde ela precisava de estar algum tempo para poder concluir um dos muitos cursos que já tirou ao longo da sua vida...foi num daqueles dias para esquecer, mau para mim, pior para ela que logo na primeira abordagem ia ficando com a sua mãozinha na boca dum pitbull e, no meio dos acontecimentos desse dia, eu cheguei a pensar que nada ia dar certo, que o nosso entendimento não ia ser pacífico e que, em comum, só tínhamos mesmo o nome próprio...já passaram uns largos meses desde esse dia, muita coisa aconteceu e, apesar da Ana só estar presente um dia por semana porque tem outra actividade, a verdade é que as minhas 2as feiras nunca mais foram como dantes...
Descobri uma pessoa interessante e interessada, multifacetada e com inúmeras áreas de interesse, com imenso jeito para lidar com animais e pessoas, que adora fotografar e tem a técnica, o talento e o equipamento e faz umas sessões fotográficas descontraídas onde consegue captar naturalmente o melhor de cada momento e os interessados podem fazer marcações através do mail straubita@hotmail.com
Na última 2ª feira fui buscar a Nônô à escola e, para seu regozijo, fomos para o meu local de trabalho onde também estava a Ana que, nesse dia, vinha munida da sua câmara e quis fazer umas fotografias no jardim que fica nas proximidades da clínica. A Nônô nem sabia bem ao que ia mas, só de  imaginar que teria direito a uma volta no emblemático carrossel do jardim, o seu entusiasmo era grande e, por isso, nem pestanejou, deu a mão à Ana, olhou para trás com um sorriso contagiante, acenou-me entusiasticamente enquanto dizia "até já mãe!"
Não assisti à sessão, mas o mote foi mesmo a felicidade que nem mesmo a chegada do Outono conseguiu destronar, pois a alegria captada nas imagens e a satisfação com que ambas chegaram ao pé de mim, foi o suficiente para eu perceber que tinham sido momentos muito bem vivenciados e uma experiência a repetir...
À Ana  agradeço, não só a ajuda preciosa ao longo destes meses de partilha, aprendizagem e companheirismo, mas também a surpresa que me fez ao captar estas imagens de genuína felicidade...
OBRIGADO!!!

Ana Pádua
12/10/2016

Welcome Autumn

collecting...
...little moments
felicidade é...
amar...

sentir-se amada...

desfrutar cada momento...

e os pequenos prazeres...

...e, no fim de cada dia, agradecer!
OBRIGADO!!!

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

À procura de Nemo...

Setembro foi um mês de mudanças...foi o mês do regresso às aulas e foi precisamente a ocasião escolhida para a Nõnõ finalmente começar a pernoitar no seu quarto! Supostamente já devia estar no seu próprio aposento há 3 anos e meio (mais coisa menos coisa) segundo ditam as regras e os bons costumes, mas tal não aconteceu...primeiro porque eu gostava, segundo porque era cómodo e terceiro porque eu nunca encontrei o momento certo, mas a hora da mudança chegou, primeiro porque a Nônô já não cabia na cama de grades, segundo porque eu achei que era a altura certa e terceiro porque começou a dizer que só sairia do meu quarto aos 15 anos e comecei a assustar-me...
Cansei-me de ouvir variadíssimas teorias sobre o assunto, as mais diversas profecias e ainda os augúrios dos profetas da desgraça do costume, até que um dia uma amiga me deu isto para ler e, fiquei com a certeza que, se voltasse atrás, faria exactamente o mesmo erro...
Ao princípio parecia que ia ser tudo muito pacífico e a Nônô estava a adorar a ideia de ter a sua própria cama...a cama foi escolhida por ela, montada sobre o seu olhar atento e, como o estrado estava esgotado na altura da compra, a cama manteve-se semi-armada durante uma semana, numa espécie de processo de mentalização e, durante esse tempo, foi frequente observar a Nônô deitada no chão, rodeada pela estrutura da cama, como se estivesse a imaginar como seria a sua vidinha dali para a frente.
A noite que antecedeu o regresso às aulas foi a escolhida para a mudança e antevia-se maravilhosa...a Nônô adormeceu na cama nova, ansiosa por voltar à escola no dia seguinte e eu considerei que tudo era propício a mais uma alteração e, assim, resolvi substituir-lhe a velhíssima chucha por outra igual mas num estado de conservação consideravelmente melhor...ASNEIRA!!! Coloquei a chucha roxa num quadro onde estão todas as suas chuchas, deixei-lhe outra à disposição para qualquer eventualidade e um presente sobre a cama com um bilhete em nome do Anjo da Guarda e fui-me deitar com o pensamento "isto só pode correr bem!"...e correu até às duas da manhã, altura em que a criança acordou, apercebeu-se que a chucha não era a idolatrada e resolveu começar a chamar-me, a implorar pela chucha roxa e a dizer que queria ir para o meu quarto...e eu lá fui dizendo que o Anjo da Guarda até tinha deixado um presente para assinalar o momento, mas nada a demovia e, de madrugada, lá tive de desmontar o quadro com a sua colecção de chuchas, resgatar a chucha velha e colocar a Nônô na cama de grades e tentar que dormisse e me deixasse dormir...
Na noite seguinte, pensei: "vamos por partes, fica lá com a chucha velha mais um tempo, mas vais dormir à mesma no teu quarto, porque uma vez tomada uma decisão, não se pode voltar atrás!"... assim foi e, embora o processo não tenha sido tão rápido como eu esperava nem tão pacífico como eu desejaria, CONSEGUIMOS!!!
Gradualmente foi acordando cada vez mais tarde mas, mesmo assim, durante o último mês obrigou-me a levantar-me, no mínimo, uma vez por noite e, quando era abordada sobre o assunto, tinha uma desculpa pronta...ou era porque não tinha uma luz de presença (tinha várias, mas enfim!), ou era porque estava adoentada (não estava mas simulava!) ou era porque queria um candeeiro novo a imitar uma bola de espelhos muito 80`s (que viu numa loja e nunca mais se esqueceu!) e, sempre que eu tentava explicar-lhe todas as razões que estavam na base da necessidade da mudança, limitava-se a dizer uma frase que me soava tão familiar "não quero mais conversas sobre este assunto! "...
Depois começou a dizer que queria um peixe para lhe fazer companhia e foi aí que fizemos um acordo...a primeira vez que dormisse uma noite in-tei-ri-nha no seu quarto, teria o desejado peixe!
Ainda vacilei porque não acho a mais pequena graça a peixes, cuja mortalidade é elevada e, ao mais pequeno descuido, "quinam" empanturrados ou à fome ou de causas naturais, para além da minha experiência com estes seres, ser para lá de traumatizante e só me vinha à memória um dos gatos que tive pendurado no aquário a tentar assassinar um dos peixes que me ofereceram (o que acabou por acontecer"!) e pior, lembro-me do meu irmão mais velho (que na altura julgava-se piscicultor) quase ter ficado electrocutado e agarrado a um aquário...portanto, de peixes só queria mesmo distância, excepção feita ao belo do robalo grelhado e escalado!
Mas a verdade é que já estava por tudo e, assim, não quebrei o pacto e a chegada do novo membro à família foi preparada ao pormenor...o aquário foi cedido pelo tio Zé (que tem um arsenal invejável para qualquer apreciador destas espécies) e fomos à praia apanhar pedrinhas e mais conchinhas para recriar um habitat condigno e ainda juntámos mais uns peixes de plástico para que o original se sentisse acompanhado e, como o prometido é devido, a primeira vez que a Nônô dormiu a noite inteira na sua cama, lá fomos nós à procura do Nemo, da Dory, ou melhor, do Coraçãozinho que foi o nome escolhido pela Nônô para o (in)feliz contemplado desta pequena mas GRANDE vitória!...


Ana Pádua
30/09/2016
Nônô e Coraçãozinho
o presente do Anjo da Guarda...

...e a respectiva mensagem 

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