Há dois meses que recebemos em nossa casa um peixe a quem originariamente a Nônô chamou Coraçãozinho mas depressa o rebaptizou de Nemo. O peixe foi a recompensa por finalmente a Nônô pernoitar no seu quarto e já conquistou o nosso coração e passou a fazer parte da nossa vida...tornou-se um fiel amigo e um aliado, principalmente porque as nossas manhãs deixaram de ser stressantes, acabaram-se as birras matinais e o acordar é sempre pacífico tal é a ânsia para tratar do peixinho...
Eu pensei que o seu entusiasmo fosse só nos primeiros dias e que o trabalho sobrasse todo para mim, mas a Nônô revelou-se uma cuidadora responsável e uma das suas tarefas é alimentar o peixe. É de uma preocupação extrema com a quantidade de comida que lhe oferece e não há dia em que não me venha mostrar se a dose é a correcta e recomendada para o animal. À parte disto, tudo o que são brindes alusivos ao Nemo (daqueles que saem nuns ovos de chocolate que depois sou eu que os tenho de ingerir) são para oferecer ao peixe e, como foi advertida que não poderia coloca-los dentro do aquário, vão-se multiplicando ao redor do mesmo e a sua última oferta para o animal de estimação foi um livro intitulado "Tesouros das profundezas" que vinha acompanhado por uns óculos 3D que devem dar um jeitão à criatura...
O peixe passou a ser o centro da sua atenção, tornou-se uma apaixonada pela história do Nemo, o seu mundo gira em redor de tudo o que ao mundo subaquático diz respeito e o seu quarto mais parece o museu do mar. Convictamente diz saber TUDO sobre o assunto, contrariamente a mim que não sei nada e valho-me sempre da sabedoria dum querido professor que tive na faculdade e que seguramente é quem mais sabe desta matéria e está sempre disposto a ajudar-me com preciosos conselhos que sigo à risca, numa tentativa do nosso Nemo ser o Manoel de Oliveira da piscicultura...
No último Sábado, saí de casa cedo e regressei tarde, entre o trabalho de manhã e a vadiagem do resto do dia, devo ter estado ausente para aí umas 10 horas, pelo que cheguei ao lar, doce lar, mesmo a tempo de esperar a Nônô que também andou a passear durante o mesmo período de tempo...enquanto aguardava, decidi dar uns flocos de alimento ao Nemo, o que faço todas as noites à socapa e sem a permissão da Nônô, que não pode sequer imaginar que o peixe come duas vezes ao dia, mas eu sempre considerei que não seriam três flocos a mais daquela mistela que contribuiriam para o seu fim...
Quando me aproximei do aquário não avistei o Nemo, olhei melhor e nada do peixe, revolvi todas as pedrinhas do fundo e mais o arvoredo do meio e nem sinal de ser vivo...incrédula, sentei-me na cama da Nônô e, quando pus os olhos no chão, lá estava o Nemo esticado sobre o tapete, em decúbito lateral, inerte e sem sinal vital. Fui literalmente "varrida" por uma onda de tristeza e terror e eu, que até sou uma pessoa contida nas emoções, soltei um valente grito que deve ter ecoado por toda a vizinhança. Depois comecei a pensar que inexplicavelmente o peixe só poderia ter saltado do aquário, algo que nunca me passou pela cabeça que pudesse acontecer mas que na realidade aconteceu e, pior, tanto poderia ter sido há 10 minutos como há 10 horas! Corri para o telefone em busca do apoio psicológico que só encontro junto da minha mãe (que também ficou estarrecida com o sucedido) e juntas tentámos encontrar uma solução para a Nõnô não ter o seu primeiro desgosto quando chegasse a casa. Assim, concordámos que a melhor opção seria colocar o peixe no aquário e dizer-lhe que estava a fazer oó e de manhã continuaria a fazer oó até eu conseguir ir a uma loja de animais à procura do Nemo, ou melhor, do seu sucessor. Desliguei o telefone, peguei no peixe pela barbatana caudal e coloquei-o na água e, enquanto esperava que ele viesse à tona, comecei a imaginar qual seria a melhor maneira de prendê-lo no fundo do aquário a dormir o belo do "soninho" descansado...mas o peixe nunca mais vinha à superfície e, para meu espanto, estava numa posição correcta, ou seja, na horizontal, direitinho e sem tombar para nenhum dos lados...comecei a olhar para ele e pareceu-me ver os opérculos a mexer, fixei-o novamente e lá estavam eles a abrir e a fechar, resolvi dar umas pancadinhas no aquário e, por incrível que pareça, o peixe começou timidamente a nadar e eu, que nem estava a acreditar no que via, só me lembro de verter o frasco do alimento que, num ápice, foi devorado...
Tenho a minha fé, embora nunca tenha acreditado muito em milagres mas, a verdade, é que nesse dia o peixe deve ter visto a tal da luzinha ao fundo do túnel por diversas vezes!...primeiro porque voou de uma altura considerável de seguramente mais de um metro e aterrou literalmente com os "costados" no chão, depois porque esteve fora de água um tempo (que eu não sei precisar) mas que foi o suficiente para ficar imóvel e nem estou a contabilizar todos os minutos que estive ao telefone com a minha mãe e, por último, o holofote ao fundo do túnel foi mesmo avistado quando, de certo, as minhas botas rasaram o seu delicado corpinho que jazia aos meus pés e eu, sem saber, remexia o aquário à sua procura...
Claro que já contei esta história a algumas pessoas (eu, se a ouvisse da boca de quem quer que fosse, não acreditava!) e felizmente, para bem da minha sanidade mental, uma amiga garantiu-me que já lhe aconteceu o mesmo, uma vez com final feliz, outra nem por isso...
A causa deste incidente foi identificada e prendeu-se com o facto de, nesse dia, o nível da água do aquário estar ligeiramente acima da média habitual e, portanto, tratei logo de diminuir o seu volume, agora não sei se o meu grito foi determinante para o Nemo acordar para a vida ou se a minha colecção de santos (que para além da fama de casamenteiros, são os milagreiros por excelência) foi responsável pela ressurreição do animal, só sei que, à semelhança do Santo António, quando não me quiserem ouvir e derem tudo por uns minutos de silêncio na minha companhia, também eu tenho sempre um peixe a quem pregar um sermão...
...de qualquer modo, yo no creo en milagros, pero que los hay, los hay!
A causa deste incidente foi identificada e prendeu-se com o facto de, nesse dia, o nível da água do aquário estar ligeiramente acima da média habitual e, portanto, tratei logo de diminuir o seu volume, agora não sei se o meu grito foi determinante para o Nemo acordar para a vida ou se a minha colecção de santos (que para além da fama de casamenteiros, são os milagreiros por excelência) foi responsável pela ressurreição do animal, só sei que, à semelhança do Santo António, quando não me quiserem ouvir e derem tudo por uns minutos de silêncio na minha companhia, também eu tenho sempre um peixe a quem pregar um sermão...
...de qualquer modo, yo no creo en milagros, pero que los hay, los hay!
Ana Pádua
Sem comentários:
Enviar um comentário