quarta-feira, 18 de março de 2015

O direito à BIRRRRA - Parte II

Nos últimos tempos, as birras são seguramente o tema no qual investi mais horas de leitura...entre livros, revistas e artigos soltos que me chegaram pelas mais variadas vias, li um pouco de tudo e, sempre que passei da teoria à prática, constatei que seguramente não aprendi nada de nada e, muito menos, consegui encontrar a fórmula perfeita para lidar com tão desagradável comportamento.
Cresci a ouvir a minha mãe dizer que os seus filhos, ou seja, eu e os meus queridos irmãos não fazíamos birras e, atendendo ao facto da minha mãe não ser a típica mãe coruja que vangloria a toda a hora as adoradas crias, parti do pressuposto que era verdade e quis acreditar que esta característica viesse no código genético; a minha paciência também já foi mais ilimitada e no que toca a birras reajo em menos dum fósforo e tenho ainda a ideia pré-concebida que as crianças birrentas tornar-se-ão irremediavelmente adultos mimados e caprichosos, ou seja, in-su-por-tá-veis, que é tudo aquilo de que queremos distância!
A hora das refeições e a hora de lavar os dentes sempre foram o pesadelo da Nônô e, em sinal de protesto, de vez em quando lá vai o prato da comida para o chão da cozinha ou o copo da água pelos ares na casa de banho e lá vêm os palpites alheios do costume sobre o excesso de mimo, a falta de educação e o comportamento imitativo...este último considero hilariante porque leva-me a pensar que algumas criaturas consideram que cá por casa voam pratos de comida e copos de água quando a vida não nos corre de feição...
Por tudo isto, já tive momentos de quase desespero e uma grande vontade de chegar ali à Boca do Inferno e soltar um daqueles gritos que ecoam para lá do oceano e até mesmo desejar que alguém viesse pelas minhas costas e me desse um empurrãozinho...
No outro dia, numa das nossas visitas à biblioteca infantil/juvenil do concelho, enquanto a Nônô se entretinha com outras crianças, reparei numa prateleira com alguns livros de puericultura, outros de pediatria e um que chamou a minha atenção pelo título e pela capa...o título "O Grande Livro dos Medos e das Birras" não podia ser melhor, até porque depois de eu já ter lido tanto sobre o assunto, no GRAAAAANDEEEE livro só podia estar escrito mais qualquer coisita que me tivesse escapado e a capa, com a fotografia duma criancinha com idade para ter juizinho num típico grito do Ipiranga, tinha tanto de divertida como de sugestiva...
Assim que comecei a folhear o livro, li o seguinte: "Fazer birras deveria ser um direito constitucional...Fazer birras é uma necessidade fisiológica, em qualquer idade, e quase deveria ser reconhecido como um direito, paralelo ao direito à habitação, a um nome ou a um emprego", no fundo tudo o que eu já temia quando escrevi isto...
O livro transformou-se rapidamente no meu objecto de desejo, não só pelo tema em questão ser tratado com muito sentido de humor, mas também porque me revi em muitos episódios lá descritos, fez-me ainda repensar a minha atitude perante as birras e ensinou-me a contornar a situação. Aprendi que é importante termos uma conversa onde possamos explicar calmamente o motivo do nosso desagrado perante os comportamentos duvidosos das crianças, convidando-as, de seguida, a sentarem-se no "banquinho do pensar", que é mais ou menos o mesmo que pô-las a reflectir sobre a própria vidinha...é ainda sugerido um minuto de reflexão por cada ano de vida da criança, pelo que, no caso da Nônô, 2-3 minutinhos são o quanto baste para resolver a questão!
Bem vistas as coisas, até eu já pondero fazer umas birras para poder dar-me ao luxo de estar 3/4 de hora na minha cadeira da reflexão (o meu adorado sofá!) o que, atendendo à minha idade, deve ser mais minuto menos minuto, o tempo a cronometrar para estar em completo modo "mindfulness", que segundo uma amiga, é o passaporte garantido para a felicidade.
Bom, a verdade é que este livro foi o melhor ansiolítico que me poderia ter vindo parar às mãos e é uma preciosidade porque está autografado pelo autor e com um dedicatória deliciosa à Nônô que, na hora da birra, já sabe que não se escapa de ouvir algumas palavras, seguidas dum período de reflexão no "banquinho do pensar" e, já agora, um pedido de desculpas (que também é bonito!)...AND LIFE GOES ON!!!

Ana Pádua
18/03/2015
...no "banquinnho do pensar"
o livro e a "cadeira da reflexão"

o autógrafo e a dedicatória

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