terça-feira, 31 de março de 2015

Flower Power

E agora sim, chegou a Primavera! A estação em que o colorido das flores alegra o espírito, os dias mais compridos proporcionam muitas actividades, o tempo soalheiro convida a longos passeios e, melhor que tudo, tal como o nome sugere, "Primeiro Verão" significa que entramos na contagem decrescente para a época do ano em que a vida tem sempre outro sabor...embora durante a última semana, tenhamos sido brindados por uma chuva intensa e um frio de rachar a lembrar o rigoroso Inverno e um vento forte que depenou as árvores e mais parecia o deprimente Outono, parece que finalmente podemos sorrir...
Assim, para darmos as boas-vindas à Primavera e assinalar o momento, nada como a simbologia de uma flor que, para além de decorar o quarto da Nônô, é simultaneamente um porta-ganchos...ao idealiza-la, veio-me logo à lembrança o slogan "flower power" usado pelos hippies na década de 60/70 como marca da ideologia da não-violência, o que não podia ser mais inspirador.
Nunca fui uma rapariga muito prendada e nunca tive grande (ou mesmo nenhum) jeito para trabalhos manuais, mas desde que descobri que sou mãe de uma criança que é dada às "artes" e gosta de expor a sua vasta obra por toda a casa, tive de me render à evidência e tentar acompanhar a tendência, o que umas vezes corre menos bem, outras menos mal, mas o que realmente importa é que passamos uns bons momentos de diversão...
A Nônô tem muito apreço pela sua colecção de ganchos que sempre estiveram amontoados e enfiados numa caixa de madeira; conhece-os bem a todos (nomeadamente quem lhos ofereceu) e todas as manhãs é um filme para decidir qual quer usar porque, embora eu tente organizar tudo na noite anterior, na alvorada nunca estamos de acordo no que toca ao acessório escolhido para o cabelo...quando selecciono um gancho verde, a Nônô quer um rosa, quando escolho um complemento da Kitty, ela imbica que vai colocar um da Minnie, se o adereço elegido por mim for um laço vermelho, a Nônô insiste em querer o azul e, se a minha opção recair no gancho oferecido pela prima, ela prefere o que foi um presente da tia e, por aí adiante, até esgotar o meu precioso tempo, que de manhã é sempre escasso e em contra-relógio.
Por isso, nada como ter tudo bem organizado e ao seu alcance, para que seja ela própria a escolher o acessório que completa a sua indumentária diária.
E esta foi a flor, uma pequena flor que eu colhi (ou melhor, fiz), só a pensar em ti...

Ana Pádua
31/03/2015

my little flower...
...e o porta-ganchos

quarta-feira, 18 de março de 2015

O direito à BIRRRRA - Parte II

Nos últimos tempos, as birras são seguramente o tema no qual investi mais horas de leitura...entre livros, revistas e artigos soltos que me chegaram pelas mais variadas vias, li um pouco de tudo e, sempre que passei da teoria à prática, constatei que seguramente não aprendi nada de nada e, muito menos, consegui encontrar a fórmula perfeita para lidar com tão desagradável comportamento.
Cresci a ouvir a minha mãe dizer que os seus filhos, ou seja, eu e os meus queridos irmãos não fazíamos birras e, atendendo ao facto da minha mãe não ser a típica mãe coruja que vangloria a toda a hora as adoradas crias, parti do pressuposto que era verdade e quis acreditar que esta característica viesse no código genético; a minha paciência também já foi mais ilimitada e no que toca a birras reajo em menos dum fósforo e tenho ainda a ideia pré-concebida que as crianças birrentas tornar-se-ão irremediavelmente adultos mimados e caprichosos, ou seja, in-su-por-tá-veis, que é tudo aquilo de que queremos distância!
A hora das refeições e a hora de lavar os dentes sempre foram o pesadelo da Nônô e, em sinal de protesto, de vez em quando lá vai o prato da comida para o chão da cozinha ou o copo da água pelos ares na casa de banho e lá vêm os palpites alheios do costume sobre o excesso de mimo, a falta de educação e o comportamento imitativo...este último considero hilariante porque leva-me a pensar que algumas criaturas consideram que cá por casa voam pratos de comida e copos de água quando a vida não nos corre de feição...
Por tudo isto, já tive momentos de quase desespero e uma grande vontade de chegar ali à Boca do Inferno e soltar um daqueles gritos que ecoam para lá do oceano e até mesmo desejar que alguém viesse pelas minhas costas e me desse um empurrãozinho...
No outro dia, numa das nossas visitas à biblioteca infantil/juvenil do concelho, enquanto a Nônô se entretinha com outras crianças, reparei numa prateleira com alguns livros de puericultura, outros de pediatria e um que chamou a minha atenção pelo título e pela capa...o título "O Grande Livro dos Medos e das Birras" não podia ser melhor, até porque depois de eu já ter lido tanto sobre o assunto, no GRAAAAANDEEEE livro só podia estar escrito mais qualquer coisita que me tivesse escapado e a capa, com a fotografia duma criancinha com idade para ter juizinho num típico grito do Ipiranga, tinha tanto de divertida como de sugestiva...
Assim que comecei a folhear o livro, li o seguinte: "Fazer birras deveria ser um direito constitucional...Fazer birras é uma necessidade fisiológica, em qualquer idade, e quase deveria ser reconhecido como um direito, paralelo ao direito à habitação, a um nome ou a um emprego", no fundo tudo o que eu já temia quando escrevi isto...
O livro transformou-se rapidamente no meu objecto de desejo, não só pelo tema em questão ser tratado com muito sentido de humor, mas também porque me revi em muitos episódios lá descritos, fez-me ainda repensar a minha atitude perante as birras e ensinou-me a contornar a situação. Aprendi que é importante termos uma conversa onde possamos explicar calmamente o motivo do nosso desagrado perante os comportamentos duvidosos das crianças, convidando-as, de seguida, a sentarem-se no "banquinho do pensar", que é mais ou menos o mesmo que pô-las a reflectir sobre a própria vidinha...é ainda sugerido um minuto de reflexão por cada ano de vida da criança, pelo que, no caso da Nônô, 2-3 minutinhos são o quanto baste para resolver a questão!
Bem vistas as coisas, até eu já pondero fazer umas birras para poder dar-me ao luxo de estar 3/4 de hora na minha cadeira da reflexão (o meu adorado sofá!) o que, atendendo à minha idade, deve ser mais minuto menos minuto, o tempo a cronometrar para estar em completo modo "mindfulness", que segundo uma amiga, é o passaporte garantido para a felicidade.
Bom, a verdade é que este livro foi o melhor ansiolítico que me poderia ter vindo parar às mãos e é uma preciosidade porque está autografado pelo autor e com um dedicatória deliciosa à Nônô que, na hora da birra, já sabe que não se escapa de ouvir algumas palavras, seguidas dum período de reflexão no "banquinho do pensar" e, já agora, um pedido de desculpas (que também é bonito!)...AND LIFE GOES ON!!!

Ana Pádua
18/03/2015
...no "banquinnho do pensar"
o livro e a "cadeira da reflexão"

o autógrafo e a dedicatória

segunda-feira, 2 de março de 2015

A Hora do Timmy

O Timmy, ou Timinho como carinhosamente é tratado, é o boneco favorito da Nônô...sempre desejei que o seu inseparável amigo fosse um peluche daqueles que existem às toneladas no IKEA e que, em caso de perda ou extravio, qualquer pessoa dá um pulinho à loja e, na hora, consegue encontrar mais um, mais dez ou mais cem exemplares semelhantes...mas não, a Nônô adoptou como companheiro para a vida, uma ovelha que veio directamente dos Estados Unidos e que lhe  foi oferecida por um simpático casal, primo da avó Nhõnhõ. A ovelha tem o corpo coberto de um material macio a simular lã, tem os membros inferiores muito compridos e desproporcionados em relação aos anteriores, tem uma expressão facial confiante e cativante que, tal como o próprio Obama, não deixa ninguém indiferente e, apesar de ser branca, foi imediatamente baptizada de Timmy, o nome da ovelha "negra" protagonista da série televisiva intitulada "A Hora do Timmy" que a Nônô muito aprecia. 
O Timmy foi uma espécie de 1º amor que rapidamente se transformou  no companheiro para a vida; segue a Nônô para todo o lado, acalma as suas angústias, é ouvinte das suas histórias, é idolatrado, é amassado, é amado, é beijado (embora de vez em quando também leve uns "tapas" no focinho para se pôr na ordem) e é impensável adormecer sem a sua companhia. As únicas vezes que ouvi a Nônô dizer a palavra "saudade" foram sempre relativas ao Timmy e frequentemente temos que fazer inversão de marcha para ir resgatar o animal que ficou esquecido lá por casa e, por isso, de há uns tempos para cá, a ovelha passou a fazer parte da minha "checklist" antes de me ausentar para onde quer que seja.
A verdade é que o Timmy faz mesmo parte da nossa vida e, quando não sabemos o seu paradeiro, instala-se o pânico, entramos em alerta laranja e é logo accionado um plano de emergência para o capturar e há mesmo alturas em que me sinto um autêntico cão pastor (e dos eficientes tipo Border Collie) porque além de ter sempre a Nônô no meu campo de visão, ainda tenho de garantir que a sua adorada ovelha não se tresmalha para um lado qualquer!...
Acontece que o Timmy nunca viu água e sabão e, em vez de branco, já está naquela tonalidade cinzenta-acastanhada, ou seja, nauseabundo e o problema começa aqui...a Nônô assim que me ouve dizer que o Timmy tem de tomar banho, apressa-se a dizer que ela própria já banhou o Timinho e que o Timinho já está limpinho, lavadinho e cheirosinho e mais uma série de diminutivos usados para "embelezar" o quadro, que é tudo o que realmente ele não está!
No outro dia, um colega confidenciou-me que o seu filho também tem um "fiel amigo" (destes inanimados que dão sempre menos trabalho e preocupação que os verdadeiros) e, ao aperceber-se que o mesmo tinha temporariamente desaparecido para ser lavado, ficou em lágrimas e inconsolável durante umas infindáveis horas e, desde aí, sempre que penso para comigo "um dia vou dar banho ao Timmy...HOJE É O DIA!", vem-me sempre à lembrança aquela imagem aterradora da criancinha em pranto, a chorar baba e ranho em frente à máquina de lavar roupa, enquanto o boneco anda às voltas a fazer o programa completo de lavagem e secagem...
E hoje foi mesmo a "Hora do Timmy"...aproveitei um dos raros dias em que a ovelha ficou esquecida em casa e, enquanto pedia ao protector da bicharada para o animal não se desfazer durante o processo de limpeza, o Timmy foi banhado, centrifugado e seco e agora é que está mesmo limpinho, lavadinho e cheirosinho...o original TIMINHO!!!

Ana Pádua
02/03/2015 

a dupla inseparável...
Timinho e Timmy