A mãe chata é o pesadelo de qualquer criança ou adolescente, cujo maior sonho seria ter uma mãe fixe...
Existe uma espécie de padrão, pois quem foi educado por uma mãe chata tende a transformar-se numa mãe fixe e quem recebeu ensinamentos duma mãe fixe converte-se, invariavelmente, numa mãe chata.
No entanto, há quem diga que qualquer adulto bem sucedido teve uma mãe chata a educá-lo... queiramos acreditar que sim!
A mãe chata, assim que detecta o primeiro dentinho de leite, já está de escova de dentes em riste e, daí em diante e até os filhos atingirem a maioridade, põe a tocar o single cuja faixa A é o tema “Vai lavar os dentes!” e a faixa B tem a versão ”Já lavaste os dentes?” e, na dúvida, recorre ao seu faro apurado para certificar-se que o dentífrico foi usado.
A mãe fixe é o doce em pessoa e, como tudo o que quer é ver as crianças felizes a qualquer custo, permite o consumo de açúcar em barda para os níveis de serotonina das criancinhas estarem sempre em alta e ninguém se revoltar com a vidinha, evitando assim qualquer crise existencial.
A mãe fixe mantém-se sempre "zen", conseguindo meditar até mesmo no meio do caos, já a mãe chata vai tentando impor a regra e a disciplina a muito custo, elevando os decibéis da sua voz.
A mãe fixe adora fotografar-se acompanhada das filhas, mais parecendo idolatrarem os Rolling Stones porque insistem em mostrar as respectivas línguas ao mundo (vá lá saber-se a razão!) e também participa activamente nos vídeos que as miúdas partilham no TikTok, sempre acompanhados de hashtags #mummycool#melhoresamigas#manas#BFF#adolescentes.
Já a mãe chata, só de ouvir falar em tal rede social, fica com tamanha náusea que mais parece ter-lhe sido administrada uma dose de tramadol por via endovenosa.
A mãe fixe tem a mesma "playlist" da filha e ouvem frequentemente funk brasileiro, o qual dominam na perfeição. A mãe chata comunga da opinião que o pior erro português foi a descoberta do Brasil em 1500, pelo que censura, embora ingloriamente, tudo o que é consumido oriundo do país "irmão".
A mãe chata obriga as criancinhas a saberem o teorema de Pitágoras na ponta da língua, mesmo sabendo de antemão que irão utilizá-lo uma vez na vida ou, com sorte, talvez duas! Também não descansa enquanto os filhinhos não conjugam correctamente os verbos em todas as suas flexões, formas, modos, pessoas e números, expressando uma inexplicável alegria quando as mesmas conseguem enunciar a segunda pessoa do plural no presente do conjuntivo de um qualquer verbo. E quando recebem um whatsapp da descendência, passam a pente fino a ortografia, mais parecendo um corrector automático.
Para a mãe fixe, o mais importante são as artes e consegue ver um pequeno artista onde mais ninguém vê, mas interessa-se sobretudo por uma parte da história de Portugal, impingida de um modo autista nos manuais escolares e rejubila de orgulho quando vê os seus meninos, já bem crescidinhos, ingerirem cevada sob a forma de litrosa e fumarem erva enquanto entoam o “Grândola vila morena” num 25 de Abril qualquer...
Mas curiosamente, é a mãe chata que é frequentemente catapultada para uma alta patente das forças armadas com distintivos como “generala”, “coronela”, “sargenta” ou “capitã”.
A mim coube-me em sorte o título (atribuído pela minha própria filha) de “Gerente Disto Tudo”, GDT portanto, e não sei se foi influenciada pelo GGG (Grande Gigante Gentil) que a criança andava a ler ou pelo DDT (Dono Disto Tudo) de quem ouvira falar...
Sei, isso sim, que fiquei a reflectir sobre o assunto, não por eu aspirar a uma qualquer divisa militar, mas por pensar que a minha própria mãe não foi suficientemente chata, porque se o tivesse sido, em vez de Gerente Disto Tudo (GDT), talvez pudesse ter sido DDT como o outro, o que seguramente me daria muito mais rendimento e, acima de tudo, menos trabalho e preocupação...
Feliz Dia da MÃE (à chata, à fixe e, sobretudo, àquela que nos ama incondicionalmente!)
Ana Pádua
05/05/2024
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