Era uma vez uma avenida perdida no meio de uma cidade...
...a avenida, de tão pequena, podia ter só nome de rua e a cidade, de tão escura, nunca me encantou, talvez por eu nunca ter conseguido vislumbrar a tal luminosidade de que tantos falam quando se referem a Lisboa...
Mas eu sempre gostei da famosa avenida, dos amplos passeios, dos canteiros impecavelmente tratados, do comércio local, das agradáveis esplanadas, do transmontano (o Sr José) que no Outono vendia castanhas e assim que chegava o Verão inebriava a avenida com o cheiro fresco dos morangos, dos cães com porte altivo que acompanhavam os seus donos e faziam esta rua assemelhar-se a uma qualquer avenida parisiense...
Hoje já nada é assim e, embora os passeios continuem amplos, os canteiros já não estão tão cuidados, as lojas desapareceram quase todas, as poucas esplanadas que resistiram estão praticamente desertas, o Sr José já deve ter ido para a sua terra e dos cães nem sinal...tudo está descaracterizado!
Raramente vou a Lisboa, o que não me causa qualquer síndrome de privação da capital e só consigo apreciar alguma da sua beleza nos fins de semana e em Agosto, quando tudo está longe do reboliço quotidiano. Nestas férias fizemos uma visita à tal avenida e, no meio de toda a degradação em que a mesma se transformou, encontrámos um local muito acolhedor...a ardósia com o menu fixada à porta do estabelecimento chamou a minha atenção e, inexplicavelmente, a empatia com aquele lugar que me parecia tão familiar foi imediata...da decoração do espaço à agradável esplanada, das iguarias que passavam à minha frente à "bella ragazza" que servia às mesas, tudo se estava a compor...fiz o meu pedido e, enquanto aguardava pelo sumo e pela melhor bruschetta de tomate e mozzarella de que tenho memória, observei que a Nônô estava sentada à porta do estabelecimento com uma expressão que quis imediatamente registar. Deitei a mão à máquina fotográfica e, quando me preparava para imortalizar o momento, reparei que a simpática italiana estava gentilmente a contribuir para o enquadramento da foto, pelo que tinha ido buscar todos os arranjos florais decorativos do seu espaço comercial e com eles estava a criar um belo cenário....
Claro que a expressão que eu tinha em mente captar, foi destornada pela preplexidade da Nônô que em poucos segundos se viu rodeada de flores e envolvida pelos sorrisos de todos os que estavam na esplanada e mais daqueles que ocasionalmente por ali passavam e paravam para ver a "produção fotográfica"...
Perdi uma foto com alma, mas ganhei uma fotografia com história!...e a fotografia com a dedicatória "Il mio picollo fiore" já está pronta para ser entregue em mão numa rua que está tão impregnada de saudosismo como os poemas escritos outrora por quem deu nome à AVENIDA...GUERRA JUNQUEIRO!
Ana Pádua
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