Desde há cerca de dois meses que as criancinhas estão numa espécie de ensino doméstico com o objectivo de conseguir minimizar os danos colaterais de toda esta contingência em que forçosamente mergulhámos e salvar, da melhor maneira possível, o ano escolar.
Esta experiência tem sido vivenciada de maneiras muito diferentes por cada família...a maioria dos pais não são professores, muitos estão em teletrabalho, outros continuam a trabalhar fora de casa e vários têm mais de dois filhos nesta nova versão de ensino e, para estes últimos, vai a minha admiração e respeito porque, isso sim, deve ser complicado!
Por aqui o drama é outro! A Nônô está a apreciar bastante o ensino à distância e nem quer é ouvir-me dizer que o Costa se precipitou com a decisão de manter as escolas fechadas até ao final do ano lectivo e, quando ouso opinar sobre o assunto, lança-me logo um olhar fulminante comparável aquele que recebo duns quantos que pensam que vamos todos "quinar" deste mal e mais dos outros que preferem ficar em casa com o ordenado reduzido do que no activo a receberem-no por inteiro. A única certeza que tenho é que mais depressa a enviaria para a escola do que permitiria que fosse inoculada com uma vacina desenvolvida em tempo recorde, até porque convenhamos não teremos uma vacina tão cedo e eu temo muito mais um novo pico da pandemia no próximo Inverno do que neste Verão.
A adaptação à nova realidade foi tranquila até porque a Nônô já estava habituada a um certo ritmo e horário de estudo em casa, pelo que só houve necessidade de ajustar o tempo estipulado para tal...contrariamente às opiniões de alguns "experts" na matéria que consideram contraproducente o estudo acompanhado das crianças e mais uns tantos que defendem que os alunos do 1º ciclo só devem brincar e praticar mil e um desportos até caírem para cima do prato da sopa à hora do jantar, a verdade é que dou por muito bem empregues todos os 30/45 minutos diários utilizados desde que iniciou o seu percurso escolar com o objectivo de incentivar, não tanto o estudo mas a concentração, que acaba por ser o maior dos desafios! Considero que a maioria das crianças não tem grandes dificuldades de aprendizagem, mas invariavelmente tem sérias dificuldades de concentração e tudo, mesmo tudo, é um óptimo pretexto para se distrairem...mas a concentração também se promove, treina e ensina, mas é preciso muuuuiiiiita paciência! Como já li por aí "se ao fim de uma semana de quarentena estávamos à janela a aplaudir os médicos, no fim disto tudo, estaremos de 3 em 3 horas a bater palmas aos professores".
O ensino é uma experiência enriquecedora e é apaixonante ver a evolução da escrita, o desenvolvimento do cálculo mental e a descoberta do meio ambiente, o que torna todo o processo de aprendizagem gratificante.
O homeschooling sempre me despertou imensa curiosidade, não por defendê-lo ou por alguma vez o ter ponderado, mas porque um casal amigo o adoptou para os seus filhos e com resultados brilhantes. Claro que é um caso excepcional porque ambos os pais foram professores antes de terem outra actividade, o SUPERTMATIK, uns jogos didácticos que visam ensinar enquanto se brinca e que depressa conquistaram o mercado das escolas, com torneios e campeonatos pelo meio. Já temos o jogo de matemática, o de inglês e o de ortografia vem a caminho!
O meu respeito e admiração pelos professores não começou só agora. Sou filha de professora primária e tenho "discussões" quase filosóficas com a minha mãe que fica horrorizada com a letra da Nônô, mais concretamente com a falta do famigerado manuscrito nos seus textos; já para mim, a questão é secundária porque depende do método de ensino e porque a nossa letra muda ao longo da vida e eu nem me recordo da última vez que escrevi um "m" com três pernas, que rapidamente ficou reduzido a duas e, hoje em dia, foi substituído por um traço. Tenho plena consciência que assassinei a minha letra ao ponto de, em certos dias, ter dificuldade em decifrar o que escrevo...por isso, a minha exigência para com a Nônô, não se prende tanto com a caligrafia mas muito mais com a ortografia, e ela já sabe que só a largarei da mão quando não der erros de português (o que encaro quase como uma missão!), portanto há que testar, testar, testar, ou melhor, praticar, praticar, praticar!
Na escola da Nônô, a comandante dos pequenos "marujos" entrou de licença de maternidade em Janeiro, pelo que a nova professora entrou no barco já com a viagem iniciada, mas depressa ficou ao leme da embarcação e, nem mesmo a tempestade que ainda atravessamos nem o Cabo das Tormentas e mais o temível Adamastor abalaram o bote, cuja navegação segue de vento em popa, com a rota bem definida, a faina organizada e com a convicção que irá ancorar em segurança no 3º ano.
Estamos gratos à Carlota porque embarcou neste projecto e abraçou toda a tripulação com empenho e dedicação, como se o barco fosse seu desde a 1ª hora...tem sempre uma palavra de incentivo para as crianças, está sempre disponível para os pais, faculta propostas de trabalho diversificadas, providencia ferramentas para estarmos em permanente contacto, não descurando nunca a importância da socialização, ainda que virtual e, acima de tudo, zela para que esta vida de marinheiros não dê cabo de todos nós!
Para trás ficará uma viagem que todos desconhecíamos à partida e para a qual não houve planeamento possível nem tão pouco uma carta de navegação, mas será uma viagem marcante pelas amarras que criámos, pela aprendizagem inigualável a todos os níveis que nos está a proporcionar e seguramente será recordada com saudade por muitos alunos...por agora só temos a certeza que em breve dobraremos o Cabo da Boa Esperança e com uma alegria imensa vamos gritar: TERRA À VISTAAAA!
Ana Pádua
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