quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O direito à BIRRRRA...

Por definição, "birra" é a tendência para permanecer e/ou continuar de maneira insistente num mesmo comportamento e é a acção daquele que contraria alguém por capricho, estando também sempre associada à falta de entendimento entre duas pessoas, à teimosia, à rixa, à zanga, à antipatia, à aversão, à implicância e ao aborrecimento, enfim basicamente tudo aquilo que desejava secretamente nunca ter de aturar...
Toda a vida me aterrorizaram aquelas cenas em espaços públicos de crianças a rebolarem-se pelo chão, a gritarem e a reivindicarem direitos que julgam ter como adquiridos, e mais pais a tentarem mediar conflitos como se estivessem no Médio Oriente e outros a perderem a cabeça e a bofetearem tudo o que lhes aparece pela frente...
Já me tinham garantido que a partir dos 2 anos se iniciavam estes episódios (inclusivamente há crianças mais precoces que começam logo a dar um ar da sua graça com 1 ano de idade), mas até agora eu esfregava as minhas mãozinhas de contentamento porque a Nônô parecia estar imune a qualquer coisita que se assemelhasse a esta caturrice, mas enganei-me!
Há uns dias começaram estes comportamentos, sempre em casa (graças a Deus!) e sempre à mesma hora! A Nônô nunca achou muita graça à hora de deitar e associa o acto de lavar os dentes com o recolher obrigatório e aqui começa o filme...sou eu a chama-la e ela a ignorar-me porque está a ouvir pela milionésima vez as canções do Panda e dos Caricas e não quer ser perturbada, depois começo a correr atrás dela e ela a fugir à minha frente e a maratona termina sempre comigo a agarra-la e ela a esgueirar-se tipo enguia por entre gritos, choro e muita manha...mas o filme continua com eu a querer que ela durma e ela aos pulos em cima da cama com se de um trampolim se tratasse e depois quer água e mais água que nunca bebe e continua a inventar tudo o que lhe ocorre para queimar o meu precioso tempo e, por fim, deita-se e quer uma história, mas depois nunca se contenta com uma só história e quer outra e mais outra até esgotar por completo toda a minha imaginação e paciência...
Como se isto não bastasse, constatei que a Nônô já tem a perfeita consciência do que significa a palavra "birra" e quando se apercebe que a hora mais indesejada do seu dia está prestes a chegar, tenta intimidar-nos e com um ar sarcástico ameaça com a frase "a Nônô vai fazer uma birra"...
Mas há várias teorias para lidar com birras e eu já tentei pôr todas elas em prática mas nenhuma resultou para minha grande frustração...comecei por seguir o conselho da avó Nhônhô e tentar ignorar o assunto, o que para o meu feitio lamentavelmente não dá, pelo que parti logo para o plano B sugerido pelo pediatra (que é do mais "zen" que se possa imaginar) e que se baseia no diálogo para a resolução de conflitos, o que me parece sempre lindo na teoria mas na prática não tem qualquer resultado porque nestas idades, tal como sucede com os castigos, é como se estivéssemos a pregar aos peixes. Decidi então elevar a minha voz (que já de si é suficientemente alta) para uns decibéis acima do habitual, o que para além de não surtir nenhum efeito, ainda verifiquei que a Nônô achava imensa graça ao meu "novo" tom de voz e tentava imita-lo, usando o mesmo timbre e entoação para falar com os seus bonecos; já em desespero de causa, também experimentei a palmada pedagógica que, como eu já suspeitava, só conduz a mais comportamentos de imitação...
Portanto desatei a ler tudo o que é artigo sobre este tema e cheguei à conclusão que nesta área como em tantos outros assuntos relacionados com crianças ninguém se entende, mas que a "birra" nada tem a ver com excesso de mimo ou falta de educação (UFA!!!); é mais uma chamada de atenção e um teste à permissividade parental, pelo que cada caso é um caso e o bom senso deve sempre imperar...pela minha parte tenho tentado contornar a situação e, na hora crítica da birra, levo o Titucho (um dos bonecos preferidos da Nônô) para a casa de banho e escovo-lhe os dentes (que não tem) numa tentativa de persuadi-la a imitar a acção e simultaneamente administro a mim própria umas doses reforçadas de paciência que me fazem tolerar o direito à BIRRRRA...

Ana Pádua
27/11/2014


a birra

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

...e as palavras de ordem são:

"Que chatice!" é a nova expressão que a Nônô encontrou para manifestar o seu desagrado quando a vida não lhe corre de feição...qualquer contrariedade ou obstáculo com o qual se depare é amenizado na sua cabeça com estas palavras. Assim, fiquei a saber que para a Nônô é uma verdadeira chatice a 2ª feira (e não é só para ela!), lavar os dentes, a hora de dormir e esquecer-me do pão para a bicharada do parque...
Todas os esclarecimentos e justificações que tento dar à Nônô terminam sempre com um "percebes?" e agora acho curioso que os seus longos diálogos com amigos e colegas também sejam rematados com o mesmo "percebes?"...
O vocabulário usado nas nossas conversas nunca foi muito ao estilo "babá", "chuchu", "didi", mesmo quando a sua idade era propícia a essa tentação. Claro que quando os miúdos começam a falar, tudo se resume a vocábulos monótonos e dissílabos e o que fazíamos nessa fase era repetir os sons emitidos, decifrando-os e proferindo em seguida a palavra genuína a que se referiam, tipo "titi" é gato, "bobó" é avó e "didi" é chucha. Nunca percebi se estávamos a agir correctamente ou não e muitas vezes me interroguei sobre a melhor maneira de dialogar com a criança, até que me tranquilizei porque na última reunião de pais, a educadora da Nônô terminou o seu infindável discurso sobre a aprendizagem linguística das criancinhas dizendo que "o cão não é ão-ão, o cão é cão e faz ão-ão, a comida não é papa, a ovelha não é memé e o carro não é popó". WHAT ELSE?!...
"Foi de vela" é outra expressão à qual a Nônô recorre frequentemente e é usada quando perde algum objecto ou quando a sua adorada bola de futebol é chutada e vai parar ao meio do lago dos patos e "deu o bafo" é a frase aplicada quando coloca as suas delicadas mãozinhas em algo que imediatamente fica feito em cacos; ambas as expressões foram "herdadas" do papá...
Da avó Nhônhô, também já apanhou algumas manifestações através de palavras, nomeadamente aquelas em que é solicitada a intervenção da protecção divina e onde se enquadram "Ai, meu Deus" e "Ai, Jesus" e que invariavelmente precedem um grande disparate e, por isso, quando ecoam nos meu ouvidos, já sei que me vou deparar com a bela da asneirada...
Eu sei que a partir duma certa idade os miúdos são uns autênticos papagaios (e dos cinzentos que falam que se desunham) que repetem tudo aquilo que ouvem, mas o que mais me tem fascinado é a capacidade de memorização de tantas expressões e a aplicação adequada a cada situação quotidiana e a maior graça está na constante descoberta de expressões que eu nem desconfiava que fizessem recorrentemente parte do nosso dia-a-dia...
E ultimamente, as palavras de ordem por aqui são "VIVA PORTUGAL" e a toda a hora temos de ouvir saudações patriotas cá por casa, o que neste período que atravessamos é, no mínimo, estimulante, até porque este ano o dia de Portugal já passou e o euro 2016 ainda é uma miragem...e tudo porque há uns dias, durante um jantar com amigos, as crianças retiraram dum baú cachecóis e bandeiras de Portugal e resolveram por uma noite enaltecer o espírito da nação com gritos entusiastas de apoio ao país e nem o Pepe (o meu "sobrinho" de 4 patas) foi poupado!...

Ana Pádua
12/11/2014

os mais patriotas...
...e VIVA PORTUGAL!
Pepe, o cão "tuga"