Foi precisamente há um ano que tudo mudou...a pandemia já tinha começado há uns meses e já ameaçava Portugal há umas semanas, mas foi no dia 13/03/2020 que as escolas encerraram.
Recordo a sensação quando, naquela sexta-feira, fui buscar a Nônô à escola e não me cruzei com ninguém, lembro-me do olhar incrédulo da directora e, acima de tudo, a tristeza que senti quando vi todos os manuais escolares colocados em cima das mesas da sala para serem ordeiramente recolhidos pelos alunos, num pleno sinal que iriam ficar em casa por um tempo indefinido...
O fim de semana seguinte foi pautado pela angústia (que aumentava com as imagens aterradoras que entretanto chegavam de Espanha e de Itália) e pela incerteza dum futuro próximo que somente foi apaziguada na 2ª feira seguinte quando recebemos uma planificação de como seria, dali para a frente, uma parte tão importante da nossa vida. Rapidamente percebemos que iríamos embarcar nesta viagem por tempo indeterminado e, o que inicialmente seria uma mera travessia entre as margens dum rio, transformou-se numa viagem longa em mar alto, mas onde pudemos contar com uma navegação sempre segura com a mestria da Carlota e, posteriormente da Cátia, que uns meses mais tarde, ancorou o nosso barco em bom porto. Foi uma aventura, da qual saímos indiscutivelmente diferentes, pela aprendizagem que nos proporcionou, pelos laços que criámos, pela interajuda que experienciámos e jamais esqueceremos a emoção vivenciada na última aula pelo dever cumprido...foi tão bom!
Pelo meio aprendemos a lidar com uma nova normalidade e o maior desafio foi manter a razoabilidade para que as crianças pudessem continuar a ter uma infância feliz em que o medo não pautasse o seu desenvolvimento; vimos sonhos suspensos e planos adiados; tentámos manter o foco e alimentámos a esperança; desfrutámos como nunca da vista da varanda; descobrimos maneiras de celebrar a Páscoa, os aniversários, o Natal e tantas outras festividades nos mais variados formatos; fomos confrontados com o histerismo de uns e com o facilitismo e os (in)consequentes comportamentos de outros e fomos sobrevivendo por entre os "covidados", os confinados (com alguns "covideiros" à mistura que chegam a recear a própria sombra e são mesmo capazes de visualizar vírus na vedação dos burros lanudos da quinta do Pisão!), os inconformados (cujas lamúrias são uma constante e vivem aprisionados num passado recente que dificilmente se repetirá), os revoltados (para quem a culpa é de todos menos deles próprios e atiram pedras em todas as direcções que geralmente lhes caiem em cima) e ainda os que julgam que estamos todos a ser manipulados (fervorosos adeptos da teoria da conspiração e com a mania da perseguição), os mesmos que garantem que o homem não foi à Lua e que o 11 de Setembro não aconteceu e passam a vida a gritar ao mundo para acordar e a chamar ovelhas aos próprios amigos...um mimo!
Em Setembro veio o regresso à querida escola, um pouco diferente do que sempre conhecemos, mas igualmente bom, porque apesar das contingências, o essencial estava lá...o amor, a dedicação, a segurança e a confiança que são determinantes para que as crianças continuem a crescer sem dramatismos e receios. Não se observaram pais aglomerados no portão do estabelecimento de ensino nem pendurados na vedação, não se ouviram murmúrios ou lamentações, não houve julgamentos nem perseguições, mesmo quando os mais distraídos, onde me incluo, se esqueciam da máscara e improvisavam com o que tinham à mão!
Já no decorrer deste ano lectivo, voltámos a embarcar noutra viagem, com diferente rota e outro destino, mas onde pudemos contar novamente com a organização, disponibilidade e paciência da professora. Sou grata à Cátia, não só pelo empenho, mas pela serenidade que transmitiu em cada aula e reconheço que, nem praticando meditação todos as manhãs e ingerindo umas quantas benzodiazepinas ao pequeno-almoço, em tempo algum eu conseguiria manter tamanha calma, que reconheço ser fundamental e transmitir a segurança necessária para toda a tripulação acreditar que chegará onde só chega quem não tem medo de naufragar...
Por muito que possamos apreciar o ensino à distância, as expectativas nunca poderão ser semelhantes às do ensino presencial, pois a motivação, a concentração e o interesse jamais serão equiparáveis e, por isso, o tempo urge porque os danos causados no ensino serão difíceis de reparar e é importante as crianças voltarem rapidamente a um certo ritmo de aprendizagem, até porque já se percebeu que o país carece de médicos e de outros profissionais de saúde em geral e não de youtubers ou influencers em particular.
Tal como aconteceu o ano passado, este ano a Nônô também frequentou o ensino presencial até ao último dia em que o mesmo foi possível porque sempre acreditei que a escola é e continuará a ser um lugar seguro. Assim, aguardamos ansiosamente que na próxima semana a escola reabra novamente as suas portas que, efectivamente, nunca se fecharam e mantiveram-se sempre entreabertas, pelo menos foi assim que, ao longo do último ano, imaginei e senti...
Ana Pádua
13/03/2021