...e de repente, a Nônô começou a ler e a escrever!
Das palavras isoladas que há algum tempo escrevia e lia, surgiram as frases, depois vieram os pequenos textos que depressa quiseram virar histórias e, de repente, tudo começou a fazer sentido no papel!
O livro, requisitado na biblioteca da escola à 6ª feira, deixou de querer ser simplesmente escutado para passar a ser lido pela Nônô e o primeirinho de todos, aquele que ficará gravado na memória como sendo o 1º livro lido pela Nônô, foi o..."Coelho"!
Na escola, o incentivo à escrita é uma constante e os textos das crianças são publicados no livro de leitura que, assim, se vai compondo, sendo inteiramente da autoria dos meninos da turma e prometendo ser já o "best seller" do ano e, por isso, foi com enorme orgulho que a Nônô também deu o seu contributo com um texto alusivo às suas amiguinhas de turma.
Mas a verdade é que a evolução da escrita e da leitura, bem como todo o entusiasmo pelo estudo, teve início numa história de amor…tudo começou há um tempo atrás, quando me apercebi que todos os dias, na mochila da Nônô, aglomeravam-se papéis cheios de corações e lindas mensagens com os nomes da Nônô e das outras meninas da turma...pensando eu que se tratava daquelas clássicas trocas de mensagens entre as melhores amigas, disse à Nônô que esperava que a troca de bilhetes entre as meninas não fosse no decorrer das aulas e quando esperava ouvir um "Claro que é no recreio!", ouço antes um "Claro que os bilhetes são para o menino que nós amamos!"...como nem queria acreditar no que acabava de escutar, comecei uma espécie de evangelização das massas, dizendo que era muito lindo amarmo-nos todos uns aos outros e blá-blá-blá, mas fui logo interrompida com a exclamação "Não estás a perceber, nós estamos A-PAI-XO-NA-DAS pelo Diogo!"...
Não toquei mais no assunto, na esperança que o mesmo caísse no esquecimento, e limitei-me a comentar o sucedido com uma amiga que, para meu espanto, me disse que ela própria se tinha apaixonado perdidamente aos 6 anos de idade, mas atendendo a que a minha amiga sempre foi muito "prafrentex", em vez de me tranquilizar ainda me inquietou mais o espírito.
Em casa não havia volta a dar e todas as conversas iam parar ao miúdo que nem sequer é do ano da Nônô (tem mais um par de anos que ela!), mas privam diariamente no ATL da escola...descreveu-me a criança minuciosamente, mas o único pormenor que eu conseguia fixar era o terrível emblema do Sporting cravado na sua mochila que só me levava a pensar que a história começava mal logo à cabeça…
Todos os dias, havia um novo episódio para relatar e o miúdo era sempre o protagonista das histórias com as quais a Nônô vibrava, algumas bem enternecedoras e reflexo da interajuda fomentada na escola que frequentam...a emoção era grande cada vez que o rapaz a auxiliava a vestir a bata, lhe dava a mão para encaminha-la para a aula de barro ou a ajudava a requisitar um livro na biblioteca.
E foi por isso mesmo que pensei que o melhor era transformar a paixão em inspiração, com o único objectivo de incentivar o estudo e a verdade é que o miúdo se tem revelado o maior dos aliados! Assim, em casa, o menino querido passou a fazer parte dos enunciados dos problemas de matemática e é personagem de muitos textos escritos e a hora do estudo passou a ter outro encanto...e como a Nônô anseia estar à altura do saber do seu amado e, atendendo a que o miúdo frequenta o 3º ano, tudo a leva a crer que, aplicando-se, ainda o vai "apanhar"...nunca se sabe porque o poder do amor é mesmo indiscutível!...
Ana Pádua
28/02/2019
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